O termo persona é derivado da palavra latina equivalente à máscara, que se refere às máscaras usadas pelos atores no drama grego para dar significado aos papéis que estavam representando. E o primeiro passo no processo de individuação é o desnudamento da persona, pois conforme vamos desenvolvendo máscaras para nos defendermos, ao mesmo tempo acabamos por nos afastar de quem realmente somos, de nosso self (personalidade total, verdadeiro eu).
Começamos a desenvolver essas máscaras desde crianças, ou seja, a criança quando não é aceita da maneira que ela é, passa a ser como esperam que seja, ou tentando ser o mais próxima possível das expectativas que criaram para ela, mas que na verdade não é sua essência. Esse afastamento com o tempo pode ser a origem de muitos conflitos e vazios.
Por exemplo, uma criança que quando foi gerada e durante toda sua gestação o pai ou a mãe desejava muito que fosse um menino e ao nascer a frustração de um deles foi muito grande ao saber que era uma menina; essa criança desde pequena, com o intuito inconsciente de agradar esse pai ou mãe, passa a agir, vestir e brincar como um menino, buscando corresponder às expectativas externas. E assim vão sendo criadas as máscaras, como a única forma que encontra de ser aceito.
Como a persona se estrutura conforme o ambiente, como se fosse uma couraça protetora que nos defende das agressões externas, essa couraça vai ficando cada vez mais espessa para conseguir suportar a realidade. São aqueles adultos que com os quais nos deparamos - ou somos - rígidos, inflexíveis, onde nada parece os atingir. É como se o "eu verdadeiro" ficasse soterrado no fundo da pessoa, embaixo de muitas camadas de mágoas, ressentimentos, humilhações, desprezo, criando uma verdadeira muralha que os afastam de quem são verdadeiramente.
Quantos não vestem uma máscara sorridente durante o dia inteiro, mas quando voltam para casa à noite, choram até o dia seguinte? São adultos que enquanto crianças desenvolveram a arte de não sentir seus sentimentos, pois uma criança só pode ter e expressar seus sentimentos quando existe ali alguém que os possa aceitar completamente, sem críticas, julgamentos, comparações, entendendo-a e dando-lhe apoio.
Não tendo quem suportasse com ela suas dores, não aprendeu a se ouvir, se respeitar, como se tudo que sentisse fosse errado, com a sensação que não devia sentir o que sentia, desenvolvendo assim, um falso eu e, quando adulto, ignora seus sentimentos mais íntimos como aprendeu na infância. Vive em função do externo, buscando sempre uma forma de preencher esse vazio, seja através das drogas, sexo, comida, poder, trabalho, tudo para não entrar em contato com seus reais sentimentos, pois em alguma época aprendeu que isso era errado e aprendeu a ignorar também o que sentia.
Ser ferido quando criança, porque seus pais não permitiam que você fosse quem era, foi a pior coisa que poderia acontecer, fazendo com que aprendesse que não era certo ser você mesmo. Não era certo pensar o que você estava pensando, querer o que você queria, sentir o que você sentia ou imaginar o que imaginava. Às vezes não era certo ver o que você via ou sentir o cheiro que estava sentindo. Enfim, não era certo ser você.
Assim, muitas pessoas acreditam que não há nada além dessa máscara. É quando se faz necessário compreender o que aconteceu com essa criança, sob que condições e por quais motivos essa couraça foi desenvolvida, e que se justifica a importância do trabalho do resgate da criança interior e do qual pode ser realizado pelo processo de individuação, que geralmente ocorre através da análise.
Mas se quando adulto continua a ignorar os sentimentos e necessidades dessa Criança, perde a conexão com ela, fazendo-a confirmar que não é amada. Com isso ela conclui que deve ser muito má, errada, indigna de ser amada, insignificante, inadequada, caso contrário, não teria sido abandonada, primeiro pelos adultos da realidade exterior, pais, avós, e depois, por seu próprio Adulto Interior, ou seja, por você, hoje.
Ela aprende a temer ser rejeitada e abandonada e, com o tempo, pode acabar projetando nas outras pessoas essa vivência de abandono, acreditando quase o tempo todo que será abandonada ou rejeitada a qualquer momento, ainda que de fato isso possa não estar acontecendo. Então, tudo o que passa a fazer é com o intuito de evitar esse abandono ou rejeição, muitas vezes aceitando relações destrutivas, doentias, humilhando-se sempre por migalhas de amor.
Faça uma reflexão sobre tudo isso, o quanto pode se relacionar com sua própria história, o quanto você se sente distante de si mesmo, quantas são as máscaras que desenvolveu em busca de aceitação e reconhecimento, que espera até hoje, o quanto ainda age com a intenção de agradar a todos, sem importar-se com seus reais sentimentos. E por falar em sentimentos, onde estão seus reais sentimentos?... Continuarei na próxima postagem.
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