Nas estrelas eu vejo o seu rosto, crepitando entre o brilho do fogo cósmico...
Aqui na terra, a fogueira também crepita seu fogo mundano, e as pessoas cantam
e dançam ao seu redor. São alegres e vistosos, belas e coloridas...
Cantam lindas músicas, em uma antiga língua que desconheço. Essa música vai
viajando pelo espaço, como que dotada de asas luminosas, embalando a dança
daquela que a tudo vê, e a tudo vela, lá do alto. Aqui embaixo o povo dança e
canta. Lá em cima, a Mãe dança e sorri...
Quantas vezes, em meus sonhos e em minha mente, eu vi o povo negro, com seus
antigos rituais, dançando em volta de uma fogueira, a lhes aquecer o coração
dolorido. Sim, eles dançavam e cantavam aos seus Deuses, cantavam as belezas da
antiga África, celebravam as forças da natureza. Isso faz parte de mim, ainda
trago essas lembranças.
Mas esse povo que agora vejo é tão diferente, mas ao mesmo tempo, tão igual.
São mais coloridos, mas tão festivos e alegres quanto. São livres, pois todos os
povos quando dançam são livres. Essa liberdade é a própria divindade manifesta.
Manifesta em gestos de alegria.
Ciganos são como eles se chamam. Para mim um povo estranho. Não conheço seus
costumes, suas regras, sua cultura ou religião. Mas... Agora que os vejo dançar,
não os acho tão diferentes!
Não entendo sua língua, mas sei que suas canções enaltecem a beleza da vida.
Não entendo seus gestos e sua dança, mas sinto a alegria vibrar em meu ser. E,
olhando lá em cima, vejo Ela! A Mãe...
Todos os povos têm a sua Mãe. É a Mãe do Mundo, a Mãe do Cosmos, a Mãe Divina.
A personificação feminina do Criador.
É ela quem eu contemplo, dançando entre o fogo cósmico, embalando e velando
por todo aquele ritual. É Sara, a Santa Negra, a Santa Kali!
Seus olhos são singelos, talvez os mais singelos que já vi. São os olhos de
uma menina-criança. É charmosa, é meiga, seu fogo é abrasador. Sinto-o agora
queimar tão perto, dentro do meu coração. Pelo jeito, aquelas pessoas também
sentem.
Seus cabelos ondulados dançam por si só, seu sorriso, que se confunde com o
brilho das estrelas, parece-me a própria Deidade da beleza.
Ah Sara, mãe Divina dos ciganos, Mãe daqueles que não tem pátria, não tem
moradia, mas que tem a liberdade. Mãe de um povo excluído, mas que de seus seios
gera forças para eles continuarem a viver. Mãe dessas lindas mulheres, que
parecem imitar seus movimentos Criadores. Mãe desses homens honrados e
corajosos. Mãe desse povo que respeita os velhos, e ensinam as crianças a
viverem pela religião do sorriso...
Na minha mente as cenas vão se multiplicando, uma após a outra, como um filme.
Mas não consigo mais tirar minha atenção lá do alto. A Mãe tem muitas faces, e
Sara é uma delas...
No coração ouço uma voz. E ela me diz para eu me juntar a eles:
“Não existe povo, ritual, cultura, que esteja acima do amor e alegria que
embalam a vida. Você não os conhece, você não dança como eles, mas sorri e ama
como eles. São iguais, Meus filhos queridos. Vá lá, junte-se com seus
novos-velhos irmãos. As barreiras que o homem ergue a própria volta, apenas
servem para uma coisa: serem
derrubadas. Vai filho...
E lá fui eu dançar no meio daquele povo. Até que não era tão difícil aprender
seus passos. Vamos lá, vou botar minha alma nessa dança...
Nisso, minha visão começa a turvar-se um pouco, e vejo junto deles, os velhos
negros da antiga África, a dançarem imitando os movimentos da natureza... Vejo
também índios e índias, a chacoalharem bem alto seus maracás. Vejo as orientais
com seus esvoaçantes véus...
Aquilo se torna uma mistura de povos e raças, culturas diversas... Não se fala
mais nenhuma língua, apenas a universal língua do amor, da celebração e da
alegria. Lindo, lindo demais...
Lá em cima, a Mãe continua a dançar... “São todos irmãos... Meus Filhos
queridos!”
Sim, somos todos irmãos, filhos da Mãe do mundo! Obrigado, Mãe querida...
Sara, que brilha entre o Sol e a Lua, dançando no Cosmos;
Mãe do Povo Cigano, mas Mãe de toda a hUManidade também;
Que seu Ser seja em meu coração, palavras e mente,
Por hoje e todo sempre!
Mãe, sopra seu vento de bênçãos por todos esses povos,
Que esqueceram a alegria do dançar,
Perdendo-se nas diferenças
Da cor, da raça e do falar.
Mãe do Mundo, negra como a noite;
Reluzente e branca como o dia;
Brilha, brilha e brilha,
No nascer e renascer de uma nova filha !
Primavera das flores!
O nascer de um sorriso!
Encantos de Sara,
A Mãe do olhar infantil...
Sepe ;)
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