1º. Capítulo - A REALIDADE DO TRABALHO ESPIRITUAL
É evidente que o homem está melhor preparado para o trabalho material do que para o trabalho espiritual, pois os instrumentos que ele possui para agir sobre a matéria, os cinco sentidos, estão muito mais desenvolvidos do que os instrumentos que lhe permitem ter acesso ao mundo espiritual. Aliás, é por isso que muitos daqueles que enveredam pela via da espiritualidade têm a impressão de não chegar a lado nenhum e acabam por perder a coragem.
Muitas pessoas dizem: «Que trabalho é este, cujas realizações nós nunca vemos? Quando trabalhamos no plano físico, ao menos, obtemos resultados: há qualquer coisa que muda, que se constrói ou se destrói. Mesmo um trabalho intelectual tem resultados visíveis: tornamo-nos mais instruídos, mais capazes de raciocinar, de nos pronunciarmos sobre este ou aquele assunto.» Sim, tudo isso é verdade. Vós quereis construir uma casa, por exemplo: ao fim de algumas semanas, a casa lá está, visível, tangível; mas, se quiserdes criar qualquer coisa no plano espiritual, ninguém verá nada, nem vós nem os outros.
Então, perante uma tal incerteza, pode acontecer que comeceis a duvidar, a ponto de deixardes tudo e de vos lançardes, como toda a gente, numa actividade em que seja fácil constatar resultados. Podeis fazê-lo, mas um dia, mesmo no meio dos maiores sucessos, sentireis que, interiormente, há algo que vos falta. É inevitável, pois não chegastes ao essencial, ainda não plantastes o que quer que seja no domínio da luz, da sabedoria, do amor, do poder, da eternidade.
O que é preciso compreender, de uma vez por todas, acerca do trabalho espiritual, é que ele diz respeito a uma matéria extremamente subtil, que escapa aos nossos meios de investigação habituais. Os trabalhos que podemos realizar no plano espiritual são tão reais como os que realizamos no plano físico. É tão real serrar madeira ou fazer uma sopa, no plano físico, como o é, no plano espiritual, construir um edifício, desencadear certas forças, orientar determinadas correntes ou esclarecer algumas consciências. Isso só não se vê porque se trata de uma matéria diferente. Aliás, aquele que vive verdadeiramente no mundo espiritual não tem necessidade de que as realidades que sente à sua volta sejam tão visíveis e tangíveis como as do mundo físico. Mas, com o tempo, também elas poderão concretizar-se.
Quando não se conhece estas leis, quando se está à espera de ver imediatamente os resultados do trabalho espiritual, perde-se a coragem e destrói-se tudo o que já se tinha construído, pois a matéria do mundo espiritual é tão subtil que é muito fácil moldá-la. Por isso, consoante está convicto e é perseverante, ou não, assim o homem constrói ou destrói. Muitas vezes ele constrói, mas logo a seguir destrói, impedindo assim a realização definitiva do seu trabalho. Mas um dia, inevitavelmente, ocorrerá a sua concretização material.
Aliás, se interrogardes os Iniciados, eles dir-vos-ão que tudo o que vedes sobre a terra é a concretização de elementos etéricos que, com o tempo, chegaram a este grau de densidade e de materialização. Por conseguinte, se tiverdes fé e paciência para prosseguir o trabalho que empreendestes, acabareis por concretizar no plano físico tudo o que desejais. Se disserdes: «Há anos que eu desejo certas coisas, mas elas nunca se realizam!», é porque não sabeis trabalhar, ou então, por qualquer razão, os vossos desejos ainda não podem ser satisfeitos. Se os vossos desejos dizem respeito à colectividade ou à humanidade em geral, é evidente que a sua realização é bem mais difícil do que se disserem respeito apenas a vós. Enquanto vós desejais a paz no mundo, quantas pessoas não há que desejam a guerra! E, evidentemente, o desejo delas opõe-se à realização do vosso. Contudo, é preciso não perder a coragem. O que é que Jesus diz no Evangelho? «Procurai o Reino de Deus e a Sua Justiça e tu do o mais vos será dado por acréscimo.» A procura do Reino de Deus contém a sua própria recompensa.
O trabalho espiritual e o trabalho material são duas coisas diferentes. Há que estar consciente daquilo que se pode ou não esperar. Esperar do trabalho espiritual a luz, a paz, a harmonia, a saúde e a inteligência, sim; mas esperar o dinheiro, a glória, o reconhecimento ou a admiração de todos, isso já não, estais a confundir os dois mundos e sereis infelizes. Não se deve esperar qualquer vantagem das actividades espirituais. Aquilo que vós criais permanecerá, ainda por muito tempo, invisível, impalpável.
Para vos dar uma imagem, digamos que a diferença entre um espiritualista e um materialista é que… o espiritualista leva a sua casa para onde quer que vá! Sim, o espiritualista, para quem os tesouros são interiores, nunca se separa deles, nem mesmo na morte. Só as realizações interiores é que pertencem ao homem, só elas têm raízes nele, e quando parte para o além, ele leva na sua alma e no seu espírito pedras preciosas – qualidades, virtudes – e o seu nome é inscrito no livro da vida eterna.
Um espiritualista só será rico na medida em que tomar consciência de que as verdadeiras riquezas são espirituais. Se a sua consciência não estiver esclarecida, ele não possuirá nada, não passará de um pobre traste. Ao passo que o materialista tem sempre qualquer posse exterior, pelo menos por um certo tempo, e isso dá-lhe uma aparente superioridade sobre o espiritualista, Cabe ao espiritualista compreender onde está a sua verdadeira superioridade, senão estará perdido. É isso: «Grandeza e miséria dos espiritualistas» … há que escrever um livro sobre este tema!
A riqueza de um espiritualista é algo extremamente subtil, imperceptível até, mas, se estiver consciente dessa riqueza, ele possuirá o Céu e a terra, ao passo que os outros apenas têm algures um pedaço de terreno. Por que é que as pessoas não compreendem isto? Alguém dirá: «Mas eu compreendo. Compreendo que apenas as posses espirituais são seguras e duradouras, que nada do que é material nos pertence verdadeiramente e teremos de o abandonar um dia, pois é impossível transportá-lo para o outro lado. Mas, mesmo sabendo que estou a iludir-me, prefiro continuar a viver esta vida materialista, ela agrada-me.» Pois é, infelizmente é assim: quando o intelecto compreende as vantagens de uma coisa mas o coração deseja outra, o que faz a vontade? Segue o desejo do coração, só faz o que agrada ao coração. Para se querer viver a vida plena, vasta e rica, é preciso amá-la; compreender não basta.
O meu papel é dar-vos explicações, argumentos, e poderei arranjar muitos mais; mas fazer-vos amar a vida espiritual, isso é que eu já não posso. É claro que, de certo modo, posso influenciar-vos. Quando alguém ama qualquer coisa, esse amor é contagioso e pode influenciar os outros, pois cada ser humano tem a possibilidade de comunicar aos outros um elemento do que possui; até as flores, as pedras e os animais podem fazê-lo. Portanto, é possível que eu vos comunique algo do meu amor pelo esplendor do mundo divino, mas depende de vós aceitar essa influência.
Eu faço sempre o possível por vos levar a compreender o caminho que é do vosso interesse seguir, mas o gosto de palmilhar esse caminho só a vós diz respeito. Quando gostais de uma coisa sois impelidos a aproximar-vos dela. Quando tendes fome, sentis amor pela comida e imediatamente ides procurá-la nos armários ou nas lojas. O mesmo se passa com tudo o resto. Se amardes a vida espiritual, não conseguireis permanecer imóveis, de braços cruzados; sereis impelidos a satisfazer esse amor, fareis tudo o que estiver ao vosso alcance para saciar essas necessidades de vida espiritual.
Em suma, pode dizer-se que é necessário um Mestre que exponha claramente ao discípulo em que consiste a vida espiritual e por que é tão importante ele aproximar-se dessa vida, mas cabe ao discípulo amá-la e vivê-la. O Mestre dá a luz e o discípulo pronuncia-se por intermédio do seu coração: ama ou não ama, e o desempenho segue-se automaticamente. Vede como é claro: a luz vem do Mestre, o amor vem do discípulo e o movimento, a acção, é o resultado dos dois. Suponde que o Mestre é um candeeiro: o discípulo que tem amor pela leitura aproximar-se-á da luz e começará a ler.
Toda a riqueza de um espiritualista reside nele próprio e na consciência que ele tem dela; se ele não tiver consciência dessa riqueza, será mais pobre do que todos os materialistas, pois esses, ao menos, possuem algo, ao passo que ele não possui absolutamente nada. Mas se o espiritualista aprender a alargar a sua consciência para comunicar pelo pensamento com todas as almas evoluídas do universo e receber a sua ciência, a sua luz e a sua alegria, qual é o materialista que poderá comparar-se a ele? Mesmo as pedras preciosas e os diamantes perdem o brilho perante o cintilar de todos os tesouros interiores, perante o esplendor de uma alma resplandecente, de um espírito radioso.
O espiritualista que tem a consciência ampla e esclarecida é rico como o Senhor e, portanto, muito mais rico do que o rico, que possui apenas as riquezas da terra. O materialista não sabe que é herdeiro de Deus, pensa sempre que é herdeiro do seu pai, do seu avô ou do seu tio, e isso é pouco. O espiritualista, esse, sente que é um herdeiro de Deus e que a riqueza que há-de herdar se encontra no seu espírito. Enquanto não conseguirdes pensar assim sereis sempre pobres e miseráveis. Vós direis: «Herdeiros do Senhor… Que história é essa?» Não são histórias. Quando se fizer luz na vossa consciência, sentireis que sois verdadeiramente herdeiros do Senhor.
Os humanos que procuram sobretudo desenvolver as suas faculdades intelectuais fazem-no, infelizmente, em detrimento de outras possibilidades de exploração e, sobretudo, de realização: a vida subtil do universo escapa às suas investigações e à sua actividade. Ao descerem à matéria, eles esqueceram a sua origem divina, já não se lembram de como eram poderosos, sábios e belos. Agora é a terra que os preocupa: querem explorá-la e massacrá-la para enriquecer. Mas chegou o momento em que os humanos, em vez de canalizarem a sua atenção para o mundo exterior, vão retomar o caminho para o interior: não perderão nenhuma das capacidades que adquiriram ao longo dos séculos e dos milénios (pois a sua descida à matéria continuará a ser para eles uma aquisição extraordinária), mas deixarão de estar concentrados exclusivamente neste aspecto do universo e partirão à descoberta de outras regiões ainda mais ricas e reais, e nessas regiões realizarão a sua obra de filhos de Deus.
Deveis saber que, quando um ser consagrou verdadeiramente a sua vida à luz, o seu trabalho tem uma importância decisiva nas questões mundiais. Esteja onde estiver, seja conhecido ou desconhecido, ele é um centro, um foco tão poderoso que nada se faz sem ele; ele harmoniza as forças do universo com um objectivo luminoso, participa até nas decisões dos espíritos do Alto. Isto espanta-vos? Contudo, é normal. Por que é que os espíritos luminosos que velam pelo destino do mundo não tomariam em consideração a opinião de outros espíritos, semelhantes a eles nas suas radiações e emanações? Se, quando é necessário tomar decisões acerca do destino da humanidade, ninguém na terra pudesse exprimir a sua opinião, isso não seria lógico nem justo. Deveis ficar a saber que a vossa voz pode ser ouvida quando for necessário decidir o destino do mundo, e que podeis participar nos concelhos do Alto. Nesse momento, a vossa vida ganhará um novo sentido, compreendereis melhor a importância de começ ar a viver uma vida divina que vos torne dignos de fazer ouvir a vossa voz a par da das entidades sublimes.
Vós direis: «Mas o discípulo tem consciência desse papel?» Ele pode tornar-se consciente dele, mas de início não é o que acontece. Há algo nele que participa, que é considerado, que é ouvido, mas tudo se passa nas esferas superiores da sua consciência, às quais a sua consciência vulgar não tem acesso. O plano físico é tão opaco e tão espesso que são necessários muito tempo e muitos esforços para nele se reflectirem os acontecimentos que se produzem nas regiões celestes. Nos primeiros momentos, nos primeiros anos, esta participação não será muito consciente, mas mesmo assim será real. Não seria justo, como vos disse, que alguns seres se tivessem apropriado de todos os poderes e que nem sequer aos pobres espiritualistas fosse dada a possibilidade de fazer ouvir a sua voz nas votações celestes. Mas, para se votar no Alto, é preciso estar verdadeiramente atento e consciente, ser sábio e puro; lá não é como na terra, onde todos têm o direito de se pronunciar, mesmo os insensatos e os criminosos.
Quando dizia: «O meu Pai Celeste trabalha e eu trabalho com Ele», Jesus exprimia esta ideia de que o Pai associa os filhos às Suas decisões. E não é apenas Jesus que pode participar no trabalho do Pai, pois ele também disse: «Aqueles que cumprirem os meus mandamentos farão as mesmas coisas que eu e coisas maiores do que aquelas que eu faço.» Se nós preenchermos essas condições, também poderemos participar nessa obra. Quando é que os cristãos decidirão compreender as verdades celestes, que lhes permitirão libertar-se e realizar algo glorioso para o mundo inteiro? Por que é que eles ficam sempre a um canto, apagados e inúteis? Será que o ideal de um cristão consiste em molhar os dedos na água benta, acender velas, engolir uma hóstias e depois voltar para casa, dar de comer às galinhas e aos porcos, beber um copo e bater na mulher? Já é tempo de os cristãos compreenderem o Ensinamento do Cristo de uma forma mais ampla para iniciarem verdadeiramente um trabalho na via que ele lhe s preconizou, em vez de ficarem a descansar tranquilamente, convencidos de que a coisa está garantida, pois o Cristo salvou-os ao derramar o seu sangue por eles e, portanto, eles não precisam de fazer mais nada.
Vós estais na terra como num campo por cultivar. Quaisquer que sejam as vossas ocupações, mesmo quando ides simplesmente à floresta passear ou descansar, deveis evitar tudo o que se pareça com a estagnação e introduzir em vós um estado de actividade ordenada e harmoniosa, ou seja, deveis sintonizar e fazer convergir para a fonte da vida, para a luz, todas as correntes e energias que estão no vosso interior e no vosso exterior. Este é o único trabalho que o discípulo deve empreender. Uma nova luz surge no mundo para dar um novo sentido a tudo o que se faz; essa luz é uma nova compreensão da palavra trabalho.
Vós perguntais a alguém: «O que é que está a fazer? – Estou a trabalhar.» Ora bem, essa pessoa ainda está longe de compreender o que é o trabalho: faz uns trabalhinhos, anda às apalpadelas, cansa-se, mas isso ainda não é o verdadeiro trabalho. Só muito poucos, mesmo entre os Iniciados, podem dizer: «Eu trabalho.» A maior parte apenas poderá dizer: «Eu faço uns trabalhinhos», ou: «Eu faço experiências infelizes», ou: «Eu dou voltas à cabeça com certos problemas». Mas, para dizer: «Eu trabalho», como Jesus disse, o ser tem de se elevar até ao Espírito divino, tomá-l’O como modelo, inspirar-se n’Ele. Na realidade, apenas Deus trabalha. E também os Anjos e os Arcanjos, Seus servidores, pois tomaram-n’O por modelo. Por isso é que no ensinamento do futuro a palavra trabalho será entendida sob uma nova luz e ganhará um sentido mágico, pois é através de um trabalho dessa natureza que o homem se transforma.
Dois mil anos passaram e ainda ninguém aprofundou o significado da frase: «O meu Pai trabalha e eu trabalho com Ele». Nem sequer alguém se interrogou sobre o que é esse trabalho de Deus, nem como Ele trabalha, nem por que é que Jesus se associou a Ele. Na realidade, é algo gigantesco! Mesmo eu não tenho ainda a pretensão de o ter compreendido! Sim, é vertiginoso. O trabalho do Cristo é um trabalho do espírito, do pensamento, para purificar, harmonizar e iluminar tudo … para fazer convergir tudo para a Fonte divina, a fim de que a água dessa Fonte possa vivificar a Terra e as suas criaturas. Eis por que Jesus também pediu ao Senhor que desse aos seus discípulos a vida abundante, pois a vida é a água divina que faz crescer tudo. Privado dessa água, dessa vida, o homem não passa de um deserto. O trabalho do Cristo consiste em fazer fluir a vida, e é este também o trabalho que o homem, filho de Deus, deve aprender a executar.
É evidente que, antes de o conseguirem, os humanos têm de passar por trabalhos físicos grosseiros e penosos, como acontece actualmente com a maioria deles. É uma etapa necessária; enquanto não forem capazes de executar o outro trabalho, pelo menos têm este, pois é necessário fazer qualquer coisa. A natureza não tolera as criaturas que não fazem nada. Cada um deve comprometer-se, mobilizar-se; não se tolera que uma partícula se passeie por aí sem ter uma ocupação, ela tem de se integrar num conjunto, num sistema. Aqueles que se passeiam sem orientação, sem objectivo, sem nada, são atraídos e tragados por outros centros terríveis, e é o seu fim. É preciso, pois, lutar sempre contra as forças da inércia e decidir trabalhar como o próprio Cristo trabalhava.
Na realidade, qualquer trabalho pode tornar-se um trabalho espiritual. Para mim, tudo é trabalho. Eu tenho a palavra trabalho na minha mente dia e noite e procuro utilizar tudo para trabalhar. Não rejeito nada, utilizo. Mesmo quando estou aparentemente imóvel, sem fazer nada, estou a realizar um trabalho por intermédio do pensamento, para enviar a vida, o amor e a luz para todo o universo. Fazei isso vós também, e nesse momento encontrareis finalmente o sentido da vossa existência.
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