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Não acredite em algo simplesmente porque ouviu. Não acredite em algo simplesmente porque todos falam a respeito. Não acredite em algo simplesmente porque esta escrito em seus livros religiosos. Não acredite em algo só porque seus professores e mestres dizem que é verdade. Não acredite em tradições só porque foram passadas de geração em geração. Mas depois de muita análise e observação, se você vê que algo concorda com a razão, e que conduz ao bem e beneficio de todos, aceite-o e viva-o.
quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
OS GUARDIÕES INCOMPREENDIDOS
O Texto abaixo faz parte do: www.jornaldeumbanda.com.br
Em sua 4ª Edição Virtual. Visite o site e confira o jornal na integra
OS GUARDIÕES INCOMPREENDIDOS
Por Douglas Fersan
douglasfersan@uol.com.br
Provavelmente uma das manifestações divinas mais difíceis de entender é a
dualidade. O pensamento ocidental, maniqueísta, calcado em valores devidamente
distorcidos de acordo com interesses políticos e econômicos ao longo da História,
estabeleceu um padrão de pensamento em que existem duas forças antagônicas: o bem e
o mal, sempre em constante batalha pelo domínio do mundo e da alma de seus
habitantes.
Assim, tudo que não segue a ética e a moral ocidental-cristã é imediatamente
associado à sua antítese: as forças maléficas regidas por seres do mal, chamados de
demônios.
Esse tipo de pensamento traz em si um paradoxo, já que o próprio livro sagrado do
cristianismo afirma que Deus é onipresente.
Estando em todas as partes, Deus estaria também nas regiões trevosas da
espiritualidade – regiões que muitos tomaram por costume chamar de inferno.
Então Deus estaria no inferno? Parece uma heresia total fazer tal afirmação, mas
sendo Ele um ser onipresente, deve (ou deveria) estar em todos os lugares.
A crença de um inferno de penas eternas e governado por um ser
excepcionalmente maldoso também faz parte do imaginário cristão e, dentro desse raciocínio
contraditório, não haveria lugar para Deus nessa região – mesmo sendo Ele onipresente.
Dentro da filosofia que norteia o pensamento umbandista, descartamos essa
idéia de inferno. Admitimos a existência de regiões espirituais trevosas, densas, onde se
encontra aqueles espíritos que não atingiram a elevação moral esperada, elevação essa que
pode ser conquistada um dia, não necessariamente através de expiações, mas
também do trabalho árduo na espiritualidade. No entanto, nessas regiões ainda reina
uma espécie de barbárie espiritual, já que os valores morais de seus habitantes não são os
mais elevados, necessitando assim de alguém que controle suas ações, não permitindo que
outras esferas (como a dos encarnados, por exemplo) sejam alvos dos ataques e obsessão
desses espíritos. É nesse contexto que começamos a entender o papel dos Exus, os
guardiões tão incompreendidos e injustiçados, que atuam como agentes da Lei e da Ordem
dentro desse princípio da dualidade divina.
Entender Exu é entender o próprio funcionamento da Lei Maior.
Antes de qualquer coisa é preciso saber a diferença entre o Orixá Exu e o Exu catiço, da Umbanda.
(Catiço aqui quer dizer apenas o que entendemos por “entidade” ou “guia”)
A palavra Exu, que significa “Esfera”, remete aos cultos africanos e ao Orixá de mesmo nome.
Como bem sabemos, por diversos fatores históricos, houve no Brasil um processo chamado
sincretismo, através do qual as divindades africanas foram associadas aos santos
católicos. Assim, Iansã, por exemplo, que é a divindade dos raios e das tempestades, foi
sincretizada com Santa Bárbara, já que essa santa também é associada aos raios e trovões.
Ogum, o Orixá guerreiro, foi sincretizado com São Jorge, o patrono militar dos católicos, e
assim por diante. No entanto, com o Orixá Exu houve, ainda dentro do sincretismo, um
processo de demonização. Sendo Exu a divindade ligada à fertilidade, à sexualidade e
à vitalidade – inclusive carregando, em suas representações, um cetro em forma de falo – e
tendo uma personalidade um tanto rebelde, como nos contam as itans (lendas africanas
dos Orixás), não tardou para que fosse associado ao demônio bíblico/católico.
Assim, desde o princípio,
Exu foi temido e provavelmente gostou disso,
levando-se em conta seu caráter irreverente.
Apesar da confusão em torno da natureza de Exu, não podemos esquecer e
nem desprezar sua importância dentro do panteão africano e de seu funcionamento, já
que ele atua como “mensageiro” ou “intermediário” entre os homens e os Orixás.
Nos cultos de Umbanda também encontramos Exu, porém não na figura de um
Orixá, e sim de um espírito (entidade), um desencarnado, que viveu em Terra e procura,
através do trabalho na espiritualidade, alcançar o progresso moral.
Ainda que associado a figuras demoníacas, o Exu da Umbanda é um
valoroso trabalhador que, indiferente a essas interpretações calcadas em visões
preconceituosas, segue perseverante no cumprimento de sua tarefa.
O papel do Exu numa gira de Umbanda é de fundamental importância, realizando a
segurança do terreiro. Imaginem quantos kiumbas (espíritos trevosos e zombeteiros)
atacariam uma tenda de Umbanda a fim de atrapalhar seus trabalhos, se não fosse a
presença dos Exus, trancando a sua passagem.
Em casos de descarregos, também são os Exus os principais agentes, pois cabe a eles
a tarefa de encaminhar cada espírito, seja um pobre sofredor desorientado, ou um perigoso
obsessor ao seu local de merecimento e/ou tratamento.
Exu também é o agente da justiça kármica, sendo sua tarefa levar a cada um o
que lhe é de direito ou merecimento – por isso também a confusão em torno de seu caráter, já
que ao coração humano é muito fácil aceitar o que é agradável, mas muito difícil entender
que os revezes da vida muitas vezes são resultado de nossas próprias ações.
Ao contrário daquilo que falam sobre eles, os
Exus são fiéis amigos, sempre dispostos a ajudar seus protegidos,
Mas também exigindo uma conduta reta deles, pois
são extremamente rigorosos.
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