Descrevo abaixo o capítulo 8 do livro “Orixá Exu” de Rubens Saraceni , Editora Madras , que fala sobre “Exu na Umbanda”. Vamos à leitura!!!
“Esperamos que até aqui o Orixá Exu já esteja fundamentado na base da criação e tenha assumido,finalmente,a importância que ele realmente tem para nós,transformando no íntimo do leitor estudioso dos Orixás os antigos conceitos desenvolvidos para ele a partir dos fragmentos que eram visíveis sobre algo grandioso,mas que não era possível de ser aprendido,justamente porque seu conceito original e divino havia sido fragmentado no decorrer dos tempos quando manifestadores parciais do Mistério Exu assumiram condições totalizadoras.
Afinal,”Exu Caveira” não é o Orixá Exu,e sim é resultante da ação do mistério maior em um dos estados da criação,que é justamente o primeiro estado da criação manifestado pelo Divino Criador Olorum.
Explicar um mistério original da criação a partir de algumas de suas partes não o fundamenta e não o sedimenta na mente das pessoas como algo divino,e sim o diminui e o particulariza,retirando dele sua divindade e submetendo-o à dependência de outros mistérios para existir.
Era isso que acontecia e ainda acontece com Exu na Umbanda,em que temos Exus de Ogum,de Oxóssi,de Oxalá,etc..,todos dependentes da existência desses Orixás para assim poderem se apresentar.
A Umbanda,no seu início,por ter uma forte influência cristã,teve dificuldade em lidar com o já conhecido e temido Exu da tradição oral nagô,que o descrevia como perigoso e de difícil controle porque ele escapava à regra de procedimento dos outros Orixás.
Mas ele era (e ainda é)tido como um Orixá independente dos outros e possuidor de regras e de um culto só seu nos cultos tradicionais de origem nigeriana.
Os primeiros umbandistas haviam recebido uma formação doutrinária e religiosa cristã e espírita e,na falta de uma literatura sobre os Orixás em geral e sobre Exu em especial,foram de uma coragem única ao aceitar a incorporação de espíritos que se apresentavam como Exus,porque eles diferiam dos guias espirituais da “direita”.
Foi um ato de coragem religiosa,e pagaram um preço altíssimo ao afirmar que também aceitavam a presença e a participação de Exu na Umbanda.
Isso,aos olhos dos espíritas de então,era sinal de pouca ou nenhuma evolução,e não foram poucos os que se referiam ao nascente espiritismo de Umbanda como “baixo espiritismo”.
Quanto aos cristãos, as legítimas práticas religiosas umbandistas foram (e ainda são)vistas como sinônimo de paganismo ou de culto ao “coisa ruim”.
Mas nada disso era verdade,e a Umbanda prosperou no tempo e ocupou espaço,antes vazio,de uma religião fundamentada no culto aos Orixás,mas que fosse genuinamente brasileira e que tivesse em seu bojo valores religiosos e espirituais também brasileiros.
É certo que a tradicional transmissão oral dos Cultos de Nação serviu para a preservação das antiqüíssimas tradições religiosas africanas e serviram muito bem para implantar no Brasil várias religiões que, lá na África,eram nacionais e de “propriedade” de etnias que aqui,trazidas à força,não renunciaram aos seus valores e conceitos Doutrinário-religiosos.
A diáspora forçada dos povos ou etnias africanos,mais que espalhar pelo mundo uma cultura e um modo de vida ímpar e ainda tribal,semeou religiões milenares baseadas em clãs ou raças.
Cada raça africana possuía sua própria religião e,se todas eram similares,no entanto cada uma tinha sua língua e nomes próprios para seus panteões de divindades.
A Umbanda já nasceu com uma proposta em sentido contrário:incorporar os fragmentos dos antiqüíssimos Cultos de Nação e transformá-los nas bases da nova religião.
Se esses fragmentos serviram inicialmente,mais adiante se voltaram contra os umbandistas,porque,se já não bastassem as críticas espíritas(baixo espiritismo) e as cristãs(paganismo e animismo),ainda vieram as de praticantes dos tradicionais Cultos de Nação,que não aceitavam quando alguém se apresentava como umbandista ou com seguidor da nova religião dos Orixás.
Não foram poucas as críticas de seguidores de cultos tradicionais que afirmavam ,com razão,que muitas das práticas umbandistas eram adaptações das deles,já seculares.
Hoje,é fácil criticar os primeiros umbandistas,e alguns até lhes negam o crédito por tão corajosa iniciativa religiosa.
Mas o fato verdadeiro é esse:em paralelo aos fragmentos antigos recolhidos pela Umbanda junto aos cultos indígenas brasileiros,aos cultos africanos,à magia e a outras antigas fontes religiosas,uma nova religião foi se cristalizando no tempo,e hoje,um século depois,compete-nos ir identificando o que “nasceu”dentro de Umbanda e dar-lhe fundamentação divina para que,mais adiante,a religião torne-se independente quanto aos seus conceitos e fundamentos religiosos,assim como compete-nos identificar o que se renovou nela e precisa ser fundamentado em uma linguagem umbandista,para que não fiquemos prisioneiros de fundamentações alheias.
É isso que estamos fazendo aqui:fundamentando o Orixá Exu na Umbanda com fundamentos genuinamente umbandistas!
Exu, o Orixá dos cultos nagôs,já existia e tinha conceitos que o definiam.Agora,Exus com nomes simbólicos,tais como:Sete Porteiras,Tanca-Ruas,Sete Encruzilhadas,etc.,manifestaram-se através da Umbanda.
Ogum,o Orixá da agricultura,da forja,das ferramentas e das armas,era tão cultuado na África que até cidade com seu nome lá já existia.Agora,Ogum Beira-Mar,Ogum Sete Pedreiras,Ogum Rompe-Matas,etc.,começaram a ser cultuados por meio da Umbanda.
E assim foi acontecendo com todos os Orixás que eram cultuados na Umbanda,na qual,pouco a pouco,foram sendo reinterpretados e identificados como “Orixás da Umbanda”,porque antes não haviam sido cultuados nos cultos tradicionais,em que só há um “Ogum”.
A Umbanda inovou nesse campo e criou para si toda uma nova e inédita teogonia.
E assim,o texto prossegue....Espero que tenha despertado o desejo de prosseguir a leitura,pois o livro é muito interessante e vem fundamentar um dos Mistérios Divinos que por muito tempo e até hoje ainda é muito mal compreendido dentro e fora da Umbanda.
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