Um olhar diferenciado em busca dos “Dois” lados…
Axééé!!! Começam as comemorações! Começam as festas! Começam ser servidas as guloseimas!
É isso mesmo, começa um dos festejos mais envolvente, vibrante e “permitido” de nossa Umbanda. É a Festa de Cosme e Damião, de Erês, da Ibejada e das Crianças.
Mencionei a palavra “permitido” pois, assim como a festa de Iemanjá que acontece no final e no início do ano, percebo a diversidade de pessoas que, independente de suas crenças religiosas, participam dessa festa. São crianças, kardecistas, católicos, não religiosos, pessoas que normalmente não frequentam o terreiro, que nem sabem ou entendem o que é Umbanda muito menos o que representa essa Linha, mas que nesse dia, como tudo fica diferente, tudo fica mais colorido, mais leve e mais gostoso, não deixam de participar dessa festa e levar para casa muitos doces, balas e bexigas cheias de Axé.
Percebo também que muitas pessoas imaginam que as “Crianças” que se manifestam em nossos terreiros sejam realmente crianças que desencarnaram cedo, muitos ainda acham que o desencarne foi doloroso e que estão se manifestando nos terreiros em dia de festa para receberem presentes, para ver pessoas, enfim, para “curtir” a festa.
Mas isso não é bem assim, a Linha de Erês, Ibeji ou a Linha das Crianças da Umbanda é composta por Entidades iluminadas, por espíritos adultos que se plasmam, que se “vestem” como crianças para gerar a energia de alegria, pureza, doçura e irmandade, qualidades que muitas vezes estão distantes do mundo dos adultos, dos sérios e responsáveis. Também se manifestam nessa Linha os Encantados, considerados os Mensageiros, normalmente são as crianças mais quietas, mais sensíveis, que falam baixo, que se assustam facilmente, que trabalham mais energéticamente, afinal como encantados manipulam de forma potencializada as energias elementais realizando maravilhosas curas no corpo astral dos consulentes e do próprio médium.
Essa Linha é sincretizada pelo catolicismo com “COSME E DAMIÃO”. Gêmeos nascidos em 270 que, como médicos e cristãos, praticavam a medicina gratuitamente em socorro aos pobres, crianças, mulheres ou qualquer pessoa necessitada. Realizavam muitas curas milagrosas, mas sempre falavam e se referenciavam a Cristo e em nome de Cristo.
Dioclesiano, imperador da época, não tarda em persegui-los, pois Roma não tolerava o cristianismo que ameaçava expandir. Por fim, os gêmeos foram presos, torturados, acusados de prática de curandeirismo e decapitados em 303.
Contam que o imperador, ao tocar a cabeça dos mártires, recuperou milagrosamente o movimento de um dos braços paralisado desde uma antiga batalha.
No culto de Nação, “as crianças” estão ligadas ao ORIXÁ IBEJI (nação Ketu) ou VUNJI (nação Angola e Congo), que simboliza alegria, fertilidade e inocência. Uma das funções desse orixá é cuidar das crianças desde bebê até a adolescência.
Na Nigéria o nascimento de gêmeos era motivo de comemoração no povoado. A mãe e as crianças eram homenageadas e saiam para as ruas para festejar e receber presentes. Os gêmeos eram considerados pelos pais uma garantia de sorte e de fortuna.
Por serem considerados gêmeos, são associados ao princípio da dualidade, o que indica a contradição, os opostos que caminham juntos. Ibeji mostra que todas as coisas, em todas as circunstâncias, têm dois lados e que a justiça só pode ser feita se as duas medidas forem pesadas, se os dois lados forem ouvidos.
Por serem considerados crianças, são ligados a tudo que se inicia e nasce: a nascente de um rio, o nascimento dos seres humanos, o germinar das plantas etc. Importante refletir que não podemos falar em nascimento sem pensar na morte.
Há, entre tantas lendas, uma em especial que narra como os gêmeos dominaram e deteram a Morte.
Leiam a lenda “Os Ibejis enganam a Morte” contada por Reginaldo Prandi em seu livro Mitologia dos Orixás e entendam um pouco mais essa concepção:
Os Ibejis enganam a Morte
Os Ibejis, os Orixás gêmeos, viviam para se divertir.
Não é por acaso que eram filhos de Oxum e Xangô.
Viviam tocando uns pequenos tambores mágicos,
que ganharam de presente de sua mãe adotiva, Iemanjá.
Nessa mesma época, a Morte colocou armadilhas
em todos os caminhos e começou a comer todos os humanos
que caíam na suas arapucas.
Homens, mulheres, velhos ou crianças,
ninguém escapava da voracidade de Icu, a Morte.
Icu pegava todos antes de seu tempo de morrer haver chegado.
O terror se alastrou entre os humanos.
Sacerdotes, bruxos, adivinhos, curandeiros,
todos se juntaram para pôr um fim à obsessão de Icu.
Mas todos foram vencidos.
Os humanos continuavam morrendo antes do tempo.
Os Ibejis, então, armaram um plano para deter Icu.
Um deles foi pela trilha perigosa
onde Icu armara sua mortal armadilha.
O outro seguia o irmão escondido,
acompanhando-o à distância por dentro do mato.
O Ibeji que ia pela trilha ia tocando seu pequeno tambor.
Tocava com tanto gosto e maestria
que a Morte ficou maravilhada,
não quis que ele morresse
e o avisou da armadilha.
Icu se pôs a dançar inebriadamente,
enfeitiçada pelo som do tambor do menino.
Quando o irmão se cansou de tocar,
o outro, que estava escondido no mato,
trocou de lugar com o irmão,
sem que Icu nada percebessse.
E assim um irmão substituía o outro
e a música jamais cessava.
E Icu dançava sem fazer sequer uma pausa.
Icu, ainda que estivesse muito cansada,
não conseguiu parar de dançar.
E o tambor continuava soando seu ritmo irresistível.
Icu já estava esgotada
e pediu ao menino que parasse a música por uns instantes,
para que ela pudesse descansar.
Icu implorava, queria descansar um pouco.
Icu já não aguentava mais dançar seu tétrico bailado.
Os Ibejis então lhe propuseram um pacto.
A música pararia,
mas a Morte teria que jurar que retiraria todas as armadilhas.
Icu não tinha escolha, rendeu-se.
Os gêmeos venceram.
Foi assim que os Ibejis salvaram os homens
e ganharam fama de muito poderosos,
porque nenhum outro orixá conseguiu ganhar
aquela peleja com a Morte.
Os Ibejis são poderosos,
mas o que eles gostam mesmo é de brincar.
Na UMBANDA são grandes renovadores de nossos sentimentos, amparados pela irradiação de Oxum e seu imenso Amor.
Crianças, erês, ibejadas trabalham com tanta força, com tanta pureza e simplicidade, que uma “simples” bala imantada por eles suaviza nossa alma e adoça nossa vida.
Não devemos subestimar essa Linha de Trabalho ou julgar a forma que se apresentam, são espíritos elevados que brincam trabalhando e trabalham brincando.
Depois de Oxalá são os únicos que dominam totalmente a magia com e como Exu.
Vale a pena refletir e buscar um olhar diferenciado, um verdadeiro “Olhar de Poeta”…
Boa inspiração a todos, muitos doces e bom trabalho…
Axéééé!!!
Clipe criado com base no documentário “Babies” do cineasta francês Thomas BalmesEscrito por
Mãe Mônica Caraccio
2 comentários:
Amei a lenda dos Ibejis, eu sou apaixonada por eles. Agradeço sempre tudo que eles proporcionam em minha vida.
Boa semana.
Beijos doces.
Lua.
adoro os erês eles ja me ajudaram e muito gostaria muito de fazer parte da umbanda como faço para me desenvolver?gostaria muito tem como me darem dicas pelo meu email vivi_flor_amorzinh@hotmail.com ou me passarem centros de umbanda que acolhem para o desenvolvimentos?aguardo!!
axé
Postar um comentário