CLARA, CLARINHA... ESTRELINHA DOS ORIXÁS
(Uma Homenagem a Clara Nunes, Guerreira da Luz)
Clara, Clarinha...
Que desceu nas terras do Brasil,
Para cantar a Fé e a Luz.
Que cantou com a bênção dos Orixás...
Porque o seu coração era d’Eles.
Ah, linda mineira, de alma africana.
Linda estrela, de voz maravilhosa,
Que cantava a glória das três raças.
Ah, dançarina dos Orixás!
Clara, Clarinha...
Que voltou para casa, lá em cima,
Porque não era do mundo, era estrelinha.
Que voz! Que ginga! Que Axé!
Quem cantava, era você mesma?
Ou eram os Orixás, em você?
Ah, menina dos deuses!
Você deve estar cantando no Céu...
Mas deixou saudades aqui na Terra.
E, hoje, eu acordei lembrando-me de uma canção.
Uma das suas – ou dos Orixás?
E senti uma saudade doce, como um rio dentro de mim.
Sim, uma saudade com sabor de estrela.
E a visão de alguém cantando e dançando no Céu.
Uma saudade de você, Clarinha.
Sabe?... Quando você cantava aqui, eu era criança.
Mas o meu pai adorava a sua música - e se encantava...
E ele tinha você em alta conta – como mulher de fibra.
E, hoje, lembrando-me de você, eu também me lembro dele.
Que está bem velhinho, mas ainda apaixonado pela música.
E escrevo sobre você, não só pelo que senti, mas também por ele.
E não questiono o que senti, porque sempre escuto meu coração.
Assim como você fazia em nome dos Orixás.
E, hoje, além do meu pai, eu também me encanto com o seu canto.
Porque era canto de dor e alegria, bem humano e brejeiro.
Canto de alma, vindo do coração; ou, melhor dizendo, dos Orixás.
Sim, canto de fé! Das três raças num só país.
Clara, Clarinha...
Algum Poder Maior me despertou no meio da madrugada.
Para escrever algo sobre você – e alegrar o meu pai.
E eu sei de muitos outros que apreciam sua música e sua fé.
Gente que você inspirou com sua fibra de guerreira de Iansã.
E eu acho que você inspirava até mesmo os Orixás.
Sabe?... Eu fecho os olhos e ainda vejo você dançando em meio às estrelas.
E sinto um perfume espiritual descendo aqui, bem no meu coração.
E sei que é uma bênção dos Orixás – e eu agradeço ao Céu por isso.
Ah, Clarinha de Meu Deus – e dos deuses no Astral do Brasil!
A Força Espiritual que você passava em suas canções está aqui, agora.
E é como um perfume sutil que viaja por essas linhas...
Sim, como uma bênção secreta levando alegria a outros corações...
E, talvez, levando uma doce saudade aos seus fãs, e aos seus irmãos de Fé.
E, assim, talvez eles orem aos Orixás, pelo bem de todos os seres.
E eu não sei por que fui escolhido para escrever sobre você.
Eu, que gosto de rock e não sigo doutrina alguma, seja ocidental ou oriental.
Mas, quem disse que os Orixás ligam para isso? Eles veem o Amor no coração.
Esse Amor que você cantou tão bem... Como guerreira da Luz.
Que também está aqui, me fazendo escrever essas linhas.
Que me acordou, no meio da madrugada, por obra de um Poder Maior.
Ah, Clara, Clarinha...
Que hoje canta e dança no Céu, encantando até mesmo os Orixás.
Obrigado, querida. Por sua música. Pela sua Fé. Pela sua fibra.
Axé!*
(Dedicado a Clara Nunes** – e aos seus fãs e irmãos de fé.)
P.S.:
Daqui a pouco irá amanhecer...
E eu fico aqui pensando nos desígnios celestes.
E no quanto todos nós somos guiados invisivelmente.
E, também me pergunto sobre algo mais:
“Como pode um pequeno coração aguentar um Grande Amor?”
Talvez, cantando e dançando. Ou, escrevendo e deixando ir...
E, assim, compartilhando bênçãos secretas e invisíveis.
Ah, quanto mais eu vejo o infinito, menor eu me sinto.
E, diante de tal grandeza, eu me encanto, agradeço, e oro.
E, enquanto a Clarinha canta e dança no Céu, eu escrevo, aqui embaixo.
E os Orixás continuam abençoando todos, no silêncio de um Grande Amor...
Porque, no Céu ou na Terra, é só o Amor que nos leva...***
Paz e Luz.
- Wagner Borges – sujeito com qualidades e defeitos, espiritualista consciente, 49 anos de “encadernação”, pai da Helena e da Maria Luz, mestre de nada e discípulo de coisa alguma, sempre na Fé e na Luz...
São Paulo, 17 de outubro de 2010.
- Notas:
* Axé - mantra afro-brasileiro, muito usado no Candomblé e em algumas linhas de Umbanda. Significa “vibração positiva”.
** Clara Francisca Gonçalves Pinheiro, conhecida como Clara Nunes (Paraopeba, 12 de agosto de 1943 — Rio de Janeiro, 02 de abril de 1983), foi uma cantora brasileira, considerada uma das maiores intérpretes do país. Pesquisadora da música popular brasileira, de seus ritmos e de seu folclore, Clara também viajou várias vezes para a África, representando o Brasil. Conhecedora das danças e das tradições afro-brasileiras, ela se converteu à umbanda. Clara Nunes seria uma das cantoras que mais gravaria canções dos compositores da Portela, sua escola do coração. Também foi a primeira cantora brasileira a vender mais de 100 mil cópias, derrubando um tabu segundo o qual mulheres não vendiam disco.
(Trecho de biografia extraída do site do Wikipedia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Clara_Nunes).
*** Seguem-se abaixo cinco links do Youtube para vídeos da Clara Nuneshttp://www.youtube.com/watch?v=ESswdhON3aw http://www.youtube.com/watch?v=VtOBrmd3lG8&feature=related http://www.youtube.com/watch?v=T8rJUaO3Spc&feature=related http://www.youtube.com/watch?v=lBqJfSqQMY0 http://www.youtube.com/watch?v=qrrHEFKC3p4&feature=related
Obs.: Enquanto eu passava essas linhas a limpo, lembrei-me de um texto do meu amigo Frank, que complementará esses escritos de hoje de forma magistral. Segue-se o mesmo logo abaixo.
SINCRETISMO
- Por Frank -
- Ou o senhor é uma coisa ou outra.
- Não posso ser todas?
- Não! É preciso manter uma linha. Ou o senhor come a hóstia ou toma chá.
- Eu não ganharia mais em sabedoria e tolerância se ouvisse o pastor e o pai de santo?
- Não! O senhor, por um acaso, conhece algum flamenguista-tricolor ou um corintiano- palmeirense? Não, senhor. Precisamos ser firmes com o que acreditamos, ainda mais com o sagrado. Não se brinca com isso.
- É que gosto do Pai Nosso e de cantar Hare Krishna...
- Sacrilégio! Se o senhor tivesse mesmo uma fé, já teria escolhido um lado. Não pode ficar assim na ponte, não, senhor. Não pode misturar.
- É que eu pensava que tudo que é misturado é mais bonito. Olha essa cor morena, tão brasileira e tão bonita. Fruto da mistura.
- Essa mistura pode. Mistura em religião não pode, não.
- Mas o Catolicismo não nasceu da mistura do Judaísmo e das lições de Jesus?
- Sim, mas é diferente.
- Sim, isso mesmo. Diferentes credos originando um ao outro. Olha o Islamismo, eles até reconhecem Jesus e Abraão.
- Por isso não pode misturar, senhor. Daqui a pouco o senhor vai dizer que tem mais muçulmano no mundo que cristão.
- E tem mesmo! Além de hindus, budistas, umbandistas, e uma série de "istas", até aqueles que se dizem espiritualistas e pregam o sincretismo, a união de todas as religiões, como se fosse uma só.
- Espiritismo é outra coisa.
- Eu disse espiritualismo.
- A mesma coisa. Não dá para falar aleluia e axé ao mesmo tempo, senhor. É uma coisa ou outra.
- Vou seguir o seu conselho. Chega de mistura. Vai que eu perco o juízo com tanta religião. Já pensou se eu chamo por Jesus e me aparece o Buda?
- Isso mesmo, eu sabia que o senhor tinha juízo.
- Mas ouvir rock e samba, pode?*
São Paulo, 13 de abril de 2008.
- Nota de Wagner Borges: Frank é o pseudônimo do nosso amigo Francisco de Oliveira, participante do grupo de estudos do IPPB e da lista Voadores. Depois de vários anos morando em Londres, ele voltou a residir em São Paulo, em fevereiro de 2005.
Ele escreve textos muito inspirados e nos autorizou a postagem desses escritos.
Há diversos textos dele postados em sua coluna da revista on line de nosso site e em nossa seção de textos periódicos, em meio aos diversos textos já enviados anteriormente. www.ippb.org.br – Outros textos podem ser acessados diretamente em seu blog na Internet: http://cronicasdofrank.blogspot.com
- Nota do autor:
* Segue-se abaixo um samba do Martinho da Vila, que complementa o texto acima. O que seria do meu gosto musical, se eu só gostasse de rock e não aproveitasse o melhor que há no samba?
SINCRETISMO RELIGIOSO(Letra de Martinho da Vila)
Saravá, rapaziada! Saravá!
Axé pra mulherada brasileira! - Axé!
Êta, povo brasileiro! Miscigenado,
Ecumênico e religiosamente sincretizado.
Ave, ó, ecumenismo! Ave!
Então vamos fazer uma saudação ecumênica.
Vamos? Vamos!
Aleluia, aleluia!
Shalom, shalom!
Al Salam Alaikum! Alaikum Al Salam!
Mucuiu nu Zambi! Mucuiu!
Ê, ô, todos os povos são filhos do Senhor!
Deus está em todo lugar. Nas mãos que criam, nas bocas que cantam,
Nos corpos que dançam, nas relações amorosas, no lazer sadio,
No trabalho honesto.
Onde está Deus? Em todo lugar!
Olorum, Jeová, Oxalá, Alah, N`Zambi. . . Jesus!
E o Espírito Santo? É Deus!
Salve, sincretismo religioso! Salve!
Quem é Omulu, gente? São Lázaro!
Iansã? Santa Bárbara!
Ogum? São Jorge!
Xangô? São Jerônimo!
Oxossi? São Sebastião!
Aioká, Inaê, Kianda! Iemanjá!
Viva a Nossa Senhora Aparecida! Padroeira do Brasil!
Iemanjá, Iemanjá, Iemanjá, Iemanjá...
São Cosme, Damião, Doum, Crispim, Crispiniano, Radiema. . .
É tudo Erê. Ibeijada.
Salve as crianças! Salve!
Axé pra todo mundo, axé!
Muito axé, muito axé!
Muito axé, pra todo mundo, axé!
Muito axé, muito axé!
Muito axé, pra todo mundo axé...
Energia, Saravá, Aleluia, Shalom,
Amandla, caninambo! Banzai!
Na fé de Zambi. Na paz do Senhor, Amém!