AÇÃO e REAÇÃO
Enviada por Patricia Eliane Balan Modesto
PRETO VELHO – Meu filho, você tem que evoluir, tudo evolui.
MÉDIUM – O que tenho que fazer, meu Pai?
PRETO VELHO – Se desfaça de todos os bens materiais que você tem. Dê uma parte para os pobres e necessitados e a outra para sua mulher e filhos.
MÉDIUM – De tudo?
PRETO VELHO – Sim. E também de sua mulher e filhos. Vamos sair pelo mundo ajudando aqueles que necessitam. Andaremos de cidade em cidade, de lugar em lugar. Quando tiver fome, eu providenciarei comida; quando tiver sono, eu providenciarei lugar seco e seguro para descansar; quando tiver frio, eu providenciarei agasalho e roupas...
MÉDIUM - Não sei se posso. O senhor está pedindo muito de mim.
PRETO VELHO – Mas você não quer evoluir, chegar numa consciência maior?
MÉDIUM - Eu quero evoluir, mas tenho que perder tudo o que tenho. Largar minha família, meus amigos... Não sei se posso fazer isso para evoluir. Prefiro ficar como estou e buscar uma outra forma de evoluir. O senhor mesmo não disse que existem muitas formas de evoluir, porque só me deu esta escolha?
PRETO VELHO – Quando você disse que era necessário retirar as imagens do meu Congá que isso era necessário para que minha casa evoluísse, que eu evoluísse, não me deu escolha. Eu deixei. Quando você disse que era necessário retirar os atabaques, que isso era necessário para que minha casa evoluísse, que eu evoluísse, não me deu escolha. Eu deixei. Quando você disse que era necessário parar com as oferendas para os Orixás, que isso era necessário para que minha casa evoluísse, que eu evoluísse, não me deu escolha. Eu deixei. Quando você disse que não era preciso utilizar as guias, que isso era necessário para que minha casa evoluísse, que eu evoluísse, não me deu escolha. Eu deixei. Quando você disse que era necessário que os Guias de nossa casa parassem de beber e fumar, que isso era necessário para que minha casa evoluísse, que eu evoluísse, não me deu escolha. Eu deixei. Você procurou outras formas e outros meios na procura de uma consciência maior. Introduziu várias formas e meios diferentes dos que eu lhe ensinei, pois você começou a achá-los atrasados, primitivos. No entanto, eu pedi a você apenas uma coisa, e você diz que é incapaz. Você mudou tudo o que achou necessário, mas não soube mudar por dentro. Evolução não se faz mudando formas, fundamentos, ritos, meios... Evolução se faz de dentro para fora. Não importa o nosso modo de operar nossa magia, mas sim o que ela representa; sua essência e importância na vida dos que nos procuram; a doutrina e a responsabilidade de nossos rituais; nossos fundamentos; o respeito pelo que é nosso. Você mudou procurando o novo, mas apenas buscou novas formas de fazer velhas coisas. Coisas que você achava que eram primitivas e que não fariam você evoluir. Você hoje se baseia em outros para mostrar sua evolução e consciência: se eles mudam lá, você também muda aqui; se eles fazem lá, você faz aqui. Você fugiu das velhas formas, mas apenas buscou o moderno para fazer o velho. Você já está velho. Em breve irá partir e eu não mais o usarei como cavalo. Tenho, agora, nova missão com outro médium. Nele a tradição será mantida e o novo se fundira´ com o velho em busca da essência e não da forma.
MÉDIUM – O Senhor nunca me recriminou. Nunca disse que não.
PRETO VELHO - Se eu dissesse que não, você ficaria frustrado. Faria as coisas por fazer, sem o respeito ou os fundamentos necessários. Então eu deixei que você fizesse o que achava que era correto, pois você o faria com gosto. Na verdade, você nunca perguntou o que eu achava de tudo isso. Mas mesmo em desacordo, reconheço que você ajudou muitas pessoas.
MÉDIUM – Porque o Senhor só está me dizendo isto agora? Depois de tanto tempo trabalhando comigo...
PRETO VELHO – Você mudou tanto... Tanto que nem o reconheço mais... Só que agora você esta velho. Já está indo embora. Então vim para pedir uma última caminhada juntos, para que você encontrasse sua essência e tivesse a oportunidade de alcançar o que você buscou todos esses anos: evoluir, alcançar uma consciência com Deus.
MÉDIUM - Então todo esse tempo... Todas essas mudanças que fiz... Foram em vão?
PRETO VELHO - Não. Muitos que aqui estiveram e saíram para construir suas casas e nelas buscaram a essência daquilo que você ensinou, e que não mudaram por mudar, seguindo um caminho próprio, conseguiram encontrar uma consciência com Deus e uma evolução de dentro para fora. Você, mesmo sem saber, os ajudou.
MÉDIUM - Mas eu expulsei muitos médiuns por não quererem seguir com minha linha de trabalho.
PRETO VELHO – Eles souberam tirar o melhor de seus ensinamentos e dos meus. Eles abriram suas casas e hoje fazem Umbanda de várias formas.
MÉDIUM - Então...
PRETO VELHO - Sim. Aqueles que você dizia que ficaram no caminho; aqueles que não ficaram mudando constantemente, mas souberam degustar cada momento e perpetuar a tradição, os costumes, os fundamentos, os ritos... Eles mudaram a forma de ver o mundo e sua relação com ele. Buscaram a modernidade nas relações com os médiuns, no entendimento dos novos problemas, essa modernidade viciosa do ser humano. Utilizaram a modernidade e o novo para levar a doutrina, os ensinamentos, a palavra e o auxílio aos que necessitavam, mas souberam dar continuidade à nossa cultura e nossa forma, alcançando a essência naturalmente, gradativa. Mesmo o novo precisa de tradição para virar doutrina e buscar em sua própria forma e essência. Agora é hora de seguirmos juntos.
MÉDIUM - Mas eu não sei se posso largar tudo... Eu disse ao Senhor que não podia largar tudo o que construí, minha família, mulher, filhos, amigos...
PRETO VELHO – Olhe para baixo... O que você está vendo?
MÉDIUM – Minha família. Minha mulher, meus filhos, meus amigos... Estão à minha volta. E com lágrimas se despedem... Para onde vamos, meu Velho?
PRETO VELHO - Encontrar o seu cavalo e o Terreiro onde você irá trabalhar dando auxílio aos necessitados; conforto aos desesperados; curando os enfermos; agasalhando o frio das almas com palavras de calor e esperança; dando de beber a sede de muitas almas em busca de luz... Agora você é um de nós.
MÉDIUM - É engraçado, meu Velho. Eu busquei tanto o novo tentando alcançar a evolução que evoluí com a missão da tradição e de perpetuar o que não soube dar o devido valor. O Senhor ficará comigo?
PRETO VELHO - Sim, e lhe darei meu nome e minha força. Te ensinarei tudo o que será necessário. O resto será entre você e seu médium. Ele é novo e muito parecido com você.
MÉDIUM – E como devo agir com ele? Também sofrerei como o Senhor sofreu comigo?
PRETO VELHO - Eu não sofri com você.
MÉDIUM - Mas o Senhor disse...
PRETO VELHO - Eu não disse que sofri. Estava preparando você para tudo isso. Às vezes só se dá o real valor a algo quando ele escorre de nossas mãos. Você vivenciou a tradição, os costumes e os novos meios, as novas formas. Adquiriu experiências diferentes. Segure minha mão...
MÉDIUM - Estou mudando...
NO TERREIRO - “Bate tambor lá na Angola, bate tambor... Bate tambor lá na Angola, bate tambor... Os meus Pretos Velhos batem tambor... Nas minhas Almas batem tambor... Para todo povo, batem tambor... Lá na Angola, bate tambor... Bate tambor lá na Angola, bate tambor... Bate tambor lá na Angola, bate tambor...“.
PRETO VELHO - É aquele...
* O novo PRETO VELHO incorpora e um novo ciclo se inicia...
Lições de Preto-velho
Por José Queid Tufaile
Cenário: reunião mediúnica num Centro Espírita. A reunião na sua fase teórica desenrola-se sob a explanação do Evangelho Segundo o Espiritismo. Os membros da seleta assistência ouvem a lição atentamente. Sobre a mesa, a água a ser fluidificada e o Evangelho aberto na lição nona do capítulo dez: “O Argueiro e a trave no olho”.
Dr. Anestor, o dirigente dos trabalhos, tecia as últimas considerações a respeito da lição daquela noite. O ambiente estava impregnado das fortes impressões deixadas pelas palavras do Mestre: “Por que vês tu o argueiro que está no olho do teu irmão, e não vês a trave que está no teu?”. Findos os esclarecimentos, apagaram-se as luzes principais, para que se desse abertura à comunicação dos Espíritos.
Um dos presentes fez a prece e deu-se início às manifestações mediúnicas. Pequenas mensagens, de consolo e de poio, foram dadas aos presentes. Quando se abriu o espaço destinado à comunicação das entidades não habituais e para os Espíritos necessitados, ocorreu o inesperado: a médium Letícia, moça de educação esmerada, traços delicados, de quase trinta anos de idade, dez dos quais dedicados à educação da mediunidade, sentiu profundo arrepio percorrendo-lhe o corpo. Nunca, nas suas experiências de intercâmbio, tinha sentido coisa parecida. Tomada por uma sacudidela incontrolável, suspirou profundamente e, de forma instantânea, foi “dominada” por um Espírito.
Letícia nunca tinha visto tal coisa: estava consciente, mas seus pensamentos mantinham-se sob o controle da entidade, que tinha completo domínio da sua psiquê.
O dirigente, como sempre fez nos seus vinte e tantos anos de prática espírita, deu-lhe as boas vindas, em nome de Jesus:
- Seja bem vindo, irmão, nesta Casa de Caridade, disse-lhe Dr. Anestor. O Espírito respondeu: “Zi-boa noite, zi-fio. Suncê me dá licença pra eu me aproximá de seus trabaios, fio?”.
- Claro, meu companheiro, nosso Centro Espírita está aberto a todos os que desejam progredir, respondeu o diretor dos trabalhos.
Os presentes perceberam que a entidade comunicante era um preto-velho, Espírito que habitualmente comunica-se em terreiros de Umbanda.
A entidade comunicante continuou: “Vós mecê não tem aí uma cachaçinha pra eu bebê, Zi-Fio ?”.
- Não, não temos, disse-lhe Dr. Anestor. Você precisa se libertar destes costumes que traz de terreiros, o de beber bebidas alcoólicas. O Espírito precisa evoluir, continuou o dirigente.
”Vós mecê não tem aí um pito? Tô com vontade de pitá um cigarrinho, Zi-fio”.
- Ora, irmão, você deve deixar o hábito adquirido nas sessões de Umbanda, se queres progredir. Que benefícios traria isso a você?
O preto-velho respondeu: “Zi-preto véio gostou muito de suas falas, mas suncê e mais alguns dos que aqui estão, não faz uso do cigarro lá fora, Zi-fio?
Suncê mesmo, não toma suas bebidinhas nos fins de sumana? Vós mecê pode me explicá a diferença que tem o seu Espírito que bebe whisky, no fim de sumana, do meu Espírito que quer beber aqui? Ou explicá prá mim, a diferença do cigarrinho que suncê queima na rua, daquele que eu quero pitá aqui dentro?”.
O dirigente não pôde explicar, mas ainda tentou arriscar:
- Ora, meu irmão, nós estamos num templo espírita e é preciso respeitar o trabalho de Jesus. O Espírito do preto-velho retrucou, agora já não mais falando como caipira:
”Caro dirigente, na Escola Espiritual da qual faço parte, temos aprendido que o verdadeiro templo não se constitui nas quatro paredes a que chamais Centro Espírita. Para nós, estudiosos da alma, o verdadeiro templo é o templo do Espírito, e é ele que não deve ser profanado com o uso do álcool e fumo, como vem sendo feito pelos senhores. O exemplo que tens dado à sociedade, perante estranhos e mesmo seus familiares, não tem sido dos melhores. O hábito, mesmo social, de beber e fumar deve ser combatido por todos os que trabalham na Terra em nome do Cristo. A lição do próprio comportamento é que é fundamental na vida de quem quer ensinar”.
Houve profundo silêncio diante de argumentos tão seguros. Pouco depois, o Espírito continuou:
”Desculpem a visita que fiz hoje e o tempo que tomei do seu trabalho. Vou-me embora para o lugar de onde vim, mas antes queria deixar a vocês um conselho: que tomassem cuidado com suas obras, pois, como diria Nosso Senhor, tem gente “coando mosquito e engolindo camelo”.
Cuidado, irmãos, muito cuidado. Deixo a todos um pouco da paz que vem de Deus, com meus sinceros votos de progresso a todos que militam nesta respeitável Seara”.
Deu uma sacudida na médium, como nas manifestações de Umbanda, e afastou-se para o mundo invisível. O dirigente ainda quis perguntar-lhe o porquê de falar “daquela forma”. Não houve resposta. No ar ficou um profundo silêncio, uma fina sensação de paz e uma importante lição: lição para os confrades meditarem.A História do Velho Meji
Por Fernando Sepe
“Quando a alma queima de amor e
o ser eleva-se além das estrelas;
Quando o espírito liberta-se da ilusão
e os olhos contemplam a Unidade;
Quando o eu desaparece no
turbilhão do divino;
Finalmente o toque da Luz...”
Era tarde, o céu já estava tingindo com a cor que antecede o anoitecer. O Sol, tímido, escondia-se na linha do horizonte. A tudo eu contemplava, pensando no milagre da natureza. Logo chegaria a noite e a luz das estrelas beijaria a face da terra. Romance que acontece desde o prelúdio dos tempos e que inspira os amantes com sua beleza. Sim, aqueles olhos terrenos tão cansados, mas que no meio das tristezas, aprendeu a ver a verdade do milagre...
De repente uma pontada no peito. Coração de nêgo já não era forte para a matéria, estava cansado de trabalhar. Mas para o espírito, era ele a grande riqueza. Lá estavam as cicatrizes que nos fazem corajosos como o jasmim. Os tesouros do amor e da amizade, as belezas da vida. Coração, tão maltratado pela humanidade. Coração, altar da imortalidade...
A vida passa rápido. Naquele instante, como um raio que corta o firmamento. Toda ela, dançando a frente dos meus olhos. Senti saudade dos sorrisos. Das lágrimas o calor. E assim, entre o choro e a alegria, o espírito desabrochou...
O corpo tombou, sedento por voltar a terra... O espírito voou, como um pássaro celeste... Homens e mulheres choraram a ilusão da morte... Mas a natureza, essa cantou a melodia da vida...
Minha alma tocava o céu em êxtase. A existência descortinava-se para mim, pois agora o grilhão do corpo estava rompido. E a morte, o mergulho do corpo em direção a Mãe Terra, estava longe. Na consciência tudo vive...
E eu vivia! A chama da vida ardia em meu peito espiritual como nunca. E nesse contentamento, nessa bem-aventurança incrível, dancei. Dancei e rodei como tantas vezes fiz. A sagrada dança dos Orixás, gestos que simbolizam as forças da Criação...
E tanto dancei, que me esqueci do velho negro Meji. Esqueci de tudo inclusive. Simplesmente esqueci...
E nesse esquecimento alguém disse:
“Aquele que busca a Luz, que morra mesmo depois de morrer...”
E foi ali, perdido no vazio, esquecido, que a gota de orvalho finalmente voltou ao oceano.
Ah, o Orun! A terra querida dos Orixás... Tanto busquei Iansã nos raios, mas neles encontrei apenas o seu olhar... Oxalá nas nuvens, mas nelas apenas o seu semblante... Iemanjá em cada gota d’ água, e o que encontrei foi uma pequena pérola de seu colar...
Finalmente, na morte depois da morte, a eles eu realmente me devotei. Girando em volta do axé plantado no meu coração. Dançando de frente para o verdadeiro congá. Apenas aqui eu realmente os encontrei. Aqui eles sempre estiveram. O coração é o maior ilê, o maior dos congás. Não existe mistério maior que esse. Não pode existir. Mas, mesmo que você saiba disso, só morrendo para entender...
- “ Meji, quem é você? Um negro escravo? Um velho sacerdote? _ a voz da Existência lhe perguntou.
- Meji? Sacerdote? Negro? Não. Essa não é a verdadeira natureza do EU...
- Mas então QUEM É VOCÊ?”
E nada mais se sabe a respeito do velho Meji. A lenda conta que sua boca não respondeu, mas sua alma inflamou e ele queimou de amor. Morreu novamente. Foi, enfim, viver a realidade de Oxalá, seu querido Pai. No seio do grande babá, finalmente se encontrou...
Essa história ainda pode ser ouvida quando as estrelas surgem no céu. Dizem que o velho Meji é uma delas, brilhando serena no firmamento. Iluminando e velando os terreiros. É hoje uma das muitas jóias que ornam o Ori do velho e querido papai Oxalá...
Êpa Babá!
Pai Antônio de Aruanda 15/02/07
“És uma gota de meu oceano:
cheia de pérolas, a concha da alma.”
Jalal ud-Din Rumi -
A Sombra do Amado
Prece-poema a “Pai Benedito de Aruanda”
Por Pai Ronaldo Linares
Meu bondoso Preto-Velho!
Aqui estou de joelhos, agradecido contrito, aguardando sua benção.
Quantas vezes com a alma ferida, com o coração irado, com a mente entorpecida pela dor da injustiça eu clamava por vingança, e Tu, oculto lá no fundo do meu Eu, com bondade compassiva me sussurravas ESPERANÇA.
Quantas vezes desejei romper com a humanidade, enfrentar o mal com maldade, olho por olho, dente por dente, e Tu, escondido em minha mente, me dizias simplesmente:
“ Sei que fere o coração a maldade e a traição, mas, responder com ofensas, não lhe trará a solução. Pára, pensa, medita e ofereça-lhe o perdão. Eu também sofri bastante, eu também fui humilhado, eu também me revoltei, também fui injustiçado.
Das savanas africanas, moço, forte, livre, num instante transformado em escravo acorrentado, nenhuma oportunidade eu tive. Uma revolta crescente me envolvia intensamente, por que algo me dizia, que eu nunca mais veria minha Aruanda de então, não ouviria a passarada, o bramir dos elefantes, o rugido do leão, minha raça de gigantes que tanto orgulho tivera, jazia despedaçada, nua, fria, acorrentada num infecto porão.
Um ódio intenso o meu peito atormentava, por que OIÀ não mandava uma grande tempestade? Que Xangô com seus raios partisse aquela nave amaldiçoada, que matasse aquela gente, que tão cruel se mostrara, que até minha pobre mãezinha, tão frágil, já tão velhinha, por maldade acorrentara. E Iemanjá, onde estava que nossa desgraça não via, nossa dor não sentia, o seu peito não sangrava? Seus ouvidos não ouviam a súplica que eu lhe fazia? Se Iemanjá ordenasse, o mar se abriria, as ondas nos envolveriam; ao meu povo ela daria a desejada esperança, e aos que nos escravizavam, a necessária vingança.
Porém, nada aconteceu, minha mãezinha não resistiu e morreu; seu corpo ao mar foi lançado, o meu povo amedrontado, no mercado foi vendido, uns pra cá, outros pra lá e, como gado, com ferro em brasa marcado.
Onde é que estava Ogum? Que aquela gente não vencia, onde estavam as suas armas, as suas lanças de guerra? Porém, nada acontecia, e a toda parte que olha, somente um coisa via... terra.
Terra que sempre exigia mais de nossos corpos suados, de nossos corpos cansados.
Era a senzala, era o tronco, o gato de sete rabos que nos arrancava o couro, era a lida, era a colheita que para nós era estafa, para o senhor era ouro.
Quantas vezes, depois que o sol se escondia, lá no fundo da senzala, com os mais velhos aprendia, que no nosso destino no fim não seria sempre assim, quantas vezes me disseram que Zambi olhava por mim.
Bem me lembro uma manhã, que o rancor era grande, vi sair da casa grande, a filha do meu patrão. Ingênua, desprotegida, meu pensamento voou: eis a hora da vingança, vou matar essa criança, vou vingar a minha gente, e se por isso morrer, sei que vou morrer contente.
E a pequena caminhava alegre, despreocupada, vinha em minha direção, como a fera aguarda a caça, eu esperava ansioso, minha hora era chegada. Eu trazia as mãos suadas, nesse momento odioso, meu coração disparava, vi o tronco, vi o chicote, vi meu povo sofrendo, apodrecendo, morrendo e nada mais vi então. Correndo como um possesso, agarrei-a por um braço e levantei-a do chão.
Porém, para minha surpresa, mal eu ergui a menina, uma serpente ferina, como se ora o próprio vento, fere o espaço, errando, por minha causa, o seu bote foi tão fatal, tudo ocorreu tão de repente, tudo foi de forma tal, que ali parado eu ficara, olhando a serpente que sumia no matagal.
Depois, com a criança em meus braços, olhei meus punhos de aço que a deviam matar... olhei seus lindos olhinhos que insistiam em me fitar. Fez-me um gesto de carinho, eu estava emocionado, não sabia o que falar, não sabia o que pensar.
Meus pensamentos estavam numa grande confusão, vi a corrente, o tronco, as minhas mãos que vingavam, vi o chicote, a serpente errando o bote... senti um aperto no coração, as minhas mãos calejadas pelo machado, pela enxada, minhas mãos não matariam, não haveria vingança, pois meu Deus não permitira que morresse essa criança.
Assim o tempo passou, de rapaz forte de antes, bem pouca coisa restou, até que um dia chegou e Benedito acabou...
Mas, do outro lado da morte eu encontrei nova vida, mais longa, muito mais forte, mais de amor e de perdão, os sofrimentos de outrora já não importam agora, por que nada foi em vão...
Fomos mártires nessa vida, desta Umbanda tão querida, religião do coração, da paz, do amor, do perdão”.
Pretovelho na Cultura Brasileira e na Umbanda
Por Alexandre Cumino
Pai Antonio foi o primeiro preto-velho a se manifestar na Religião de Umbanda em seu médium Zélio Fernandino de Morais onde se estabeleceu a Tenda Nossa Senhora da Piedade. Assim, ele abriu esta “linha” para nossa religião, introduzindo o uso do cachimbo, guias e o culto aos Orixás.
O “Preto-velho” está ligado à cultura religiosa Afro Brasileira em geral e à Umbanda de forma específica, pois dentro da Religião Umbandista este termo identifica um dos elementos formadores de sua liturgia, representa uma “linha de trabalho”, uma “falange de espíritos”, todo um grupo de mentores espirituais que se apresentam como negros anciões, ex-escravos, conhecedores dos Orixás Africanos.
São trabalhadores da espiritualidade, com características próprias e coletivas, que valorizam o grupo em detrimento do ego pessoal, ou seja, são simplesmente pretos e pretas velhas com Pai João e Vó Maria, por exemplo.
Milhares de Pais João e de Avós Maria, o que mostra um trabalho despersonalizado do elemento individual valorizando o elemento coletivo identificado pelo termo genérico “preto-velho”. Muitos até dizem “nem tão preto e nem tão velho” ainda assim “preto velho fulano de tal”. A falta de informação é a mãe do preconceito, e, no caso do “preto-velho”, muitos que são leigos da cultura religiosa Umbandista ou de origem africana desconhecem valor do “preto-velho” dentro das mesmas.
Preto é Cor e Negro é Raça, logo o termo “preto-velho” torna-se característico e com sentido apenas dentro de um contexto, já que fora de tal contexto o termo de uso amplo e irrestrito seria “Negro Velho”, “Negro Ancião” ou ainda “Negro de idade avançada” para identificar o homem da raça negra que encontra-se já na “terceira idade” (a melhor idade). Por conta disso alguns sentem-se desconfortáveis em utilizar um termo que à primeira vista pode parecer desrespeitoso ao citar um amável senhor negro, já com suas madeixas brancas, cachimbo e sorriso fácil, por trás do olhar de homem sofrido, que na humildade da subjugação forçada e escrava encontrou a liberdade do espírito sobre a alma, através da sabedoria vinda da Mãe África, na figura de nossos Orixás, vindo de encontro à imagem e resignação de nosso senhor Jesus Cristo.
Alguns preferem chamá-los apenas de “Pais Velhos” o que é bonito ao ressaltar a paternidade, mas ao mesmo tempo oculta a raça que no caso é motivo de orgulho. São eles que souberam passar por uma vida de escravidão com honra e nobreza de caráter, mais um motivo de orgulho em se auto-afirmar “nêgo véio” e ex-escravo; talvez assim se mantenham para que nunca nos esqueçamos que em qualquer situação temos ainda oportunidade de evoluir. Quanto mais adversa maior a oportunidade de dar o testemunho de nossa fé.
O “preto-velho” é um ícone da Umbanda, resumindo em si boa parte da filosofia umbandista. Assim, os espíritos desencarnados de ex-escravos se identificam e muitos outros que não foram escravos, nesta condição, assim se apresentam também em homenagem a eles, por tê-los como Mestres no astral.
No imaginário popular, por falta de informação ou por má fé de alguns formadores de opinião, a imagem do “preto-velho” pode estar associada por alguns a uma visão preconceituosa, há ainda os que se assustam “com estas coisas” pois não sabem que a Umbanda é uma religião e como tal tem a única proposta de nos religar a Deus, manifestando o espírito para a caridade e desenvolvendo o sentimento de amor ao próximo. Não existe uma Umbanda “boa” e uma Umbanda “ruim”, existe sim única e exclusivamente uma única Umbanda que faz o bem, caso contrário não é Umbanda e assim é com os “Preto-velhos”, todos fazem o bem sem olhar a quem, caso contrário não é de fato um “preto-velho”, pode ser alguém disfarçado de “velho-negro”, o “preto velho” trabalha única e exclusivamente para a caridade espiritual.
São espíritos que se apresentam desta forma e que sabem que em essência não temos raça nem cor, a cada encarnação, temos uma experiência diferente. Os pretos velhos trazem consigo o “mistério ancião”, pois não basta ter a forma de um velho, antes, precisam ser espíritos amadurecidos e reconhecidos como irmãos mais velhos na senda evolutiva.
Quanto menos valor se dá a forma, mais valor se dá à mensagem, e “preto-velho” fala devagar, bem baixinho; quando assim se pronuncia, todos se aquietam para ouví-lo, parece-nos ouvir na língua Yorubá a palavra “Atotô”, saudação a Obaluayê que quer dizer exatamente isso: “silêncio”.
Nas culturas antigas o “velho” era sempre respeitado e ouvido como fonte viva do conhecimento ancestral. Hoje ainda vemos este costume nas culturas indígenas e ciganas. Algumas tradições religiosas mantêm esta postura frente o sacerdote mais velho, trata-se de uma herança cultural religiosa tão antiga quanto nossa memória ou nossa história pode ir buscar, tão antigos também são alguns dos pretos velhos que se manifestam na Umbanda.
Muitos já estão fora do ciclo reencarnacionista, estão libertos do karma, já desvendaram o manto da ilusão da carne que nos cobre com paixões e apegos que inexoravelmente ficarão para trás no caminho evolutivo.
Por tudo isso e muito mais, no dia 13 de Maio, dia da libertação dos escravos eu os saúdo: “Salve os Pretos Velhos! Salve as Pretas Velhas! Adorei as Almas! Salve nosso Amado Pai Obaluayê, Atotô meu Pai! Salve nossa Amada Mãe Nanã Buroquê, Saluba Nana!”
Usamos para eles velas brancas ou bicolores, metade preta e metade branca, tomam café e fumam cachimbo.
Quem é “O Velho”?
Por Alexandre Cumino
(13 de Maio de 2011)
Conhecemos mais de perto Preto Velho e Preta Velha, no entanto também há Caboclo Velho, Cabocla Velha, Exu Velho, Pomba Gira Velha, Baiano Velho, Marinheiro Velho, Boiadeiro Velho... pois são na maioria entidades que trabalham além de sua linha de ação e reação o mistério ancião, regido por Obauayê e Nanã Buroquê. Onde encontrarmos um “Velho” ali está presente algo que se relaciona com estes dois Orixás. No entanto para além do mistério em si, para além de classificações, tabelas, linhas de trabalho e relações entre espíritos e orixás está a figura do velho.
Quem é o Velho?
Alguns espíritos podem plasmar a forma de um velho, mas não podem plasmar a sabedoria de um “nobre ancião”, podem se sentar pedir um cachimbo, agir como tal, mas não podem reproduzir o sentimento e experiência de quem alcançou o “grau”, que se conquista ao absorver o mistério “ancião” concedido a “espíritos velhos”.
O que são “Espíritos Velhos”?
Afinal aprendemos que “Espirito” não tem sexo, não tem cor, não tem raça e nem idade!!!
Mas tem “identidade”, diferente do nosso conceito de identidade, embora alguns espíritos recém desencarnados e outros apegados a alguma de suas vidas mantenha como identidade o que ele experienciou na ultima encarnação. Precisamos ainda durante décadas no astral manter uma certa identidade relacionada com a ultima encarnação até mesmo para nos relacionarmos com nossos parentes ainda encarnados e outros desencarnados.
Mas há espíritos que estão libertos do conceito de que sou o que fui na ultima encarnação, há espíritos que conseguem se lembrar de muitas encarnações, reviver e relembrar suas várias vidas, algo que se conquista com um certo grau de evolução ao qual boa parte de nós almeja conquistar. Pois só há uma palavra para descrever esta condição maturidade espiritual ou maturidade existencial. Aqueles que alcançam este ponto de evolução já estão se distanciando da necessidade de reencarnar, pois é justamente o desapegoa este mundo e toda a sua materialidade que nos dá uma liberdade de trancender o modo material cristalizado na ultima ou ultimas encarnações. Espíritos que já reencarnaram muito passam períodos maiores no astral entre uma encarnação e outra, espíritos que tiveram poucas encarnações passam períodos menores de intervalo entre as encarnações o que também varia de acordo com a condição de luz e esclarecimento de cada um. Afinal quanto mais ascencionado menos necessidade de encarnar, então vamos encontrar espíritos missionários que mesmo libertos das amarras da carne com seus apegos pedem para nascer nesta ou naquela família e grupo sócio-cultural para ajudar a coletividade lançando valores superiores, quase sempre por meio de atitudes e menos por palavras. Como Cristo, Buda, Mahavira, Chico Xavier, Zélio de Moraes, Tereza de Calcutá, Ramakrisna, Vivekananda, Martin Luther King, Malcon X, Sai Baba, Dalai Lama, Osho... etc.
No astral aqueles que já tiveram muitas encarnações e trazem vivas as experiências e lições aprendidas tem uma maturidade maior que os demais e é esta maturidade que os coloca na condição de “Velho”, Ancião, pois Viveu Muito Mais que os demais no que diz respeito a sua consciência das experiências apreendidas.
Por isso espiritualmente falando “Um Velho” não é apenas um velho e sim um sábio o que transcende uma forma plasmada. Tenha sido ou não um velho negro e escravo, um Preto Velho é um sábio e em boa parte das vezes se trata de um “Espirito Velho”, que já teve muitas vidas e as traz de forma consciente... o que podemos observar verificando que muito pouca coisa o assusta ou surpreende e se conceito de ser humano é sempre aberto e inclusivo, todas as diferenças culturais, sociais ou raciais são para os velhos pura bobagem de crianças que ainda não aprenderam a lição... a dura lição que por bem ou mal r\todos iremos aprender, mais dia ou menos dia... no passar dos tempos, vidas após vidas na construção de nossa identidade maior, na lapidação de nosso ser atemporal.
Só podemos agradecer a estes Velhos que se dignam vir até nos ainda crianças para nos trazer um pouco de sua sabedoria milenar, que atravessa esta névoa de ilusão passageira a qual costumamos definir como nossa realidade.
Salve os Pretos Velhos e Pretas Velhas de Umbanda
Que o Mistério Ancião nos cubra a todos com seu véu de sabedoria e maturidade
Nos inspirando paciência, resignação, tolerância, perdão, amor e sabedoria...
Quem Liberta Quem?
Por Alexandre Cumino
(13 de Maio de 2011)
Dia 13 de Maio é dia da Libertação, dia da Lei Áurea em que a Princesa Isabel assinou o documento que deu a liberdade aos negros escravos. O que é cantado em verso e prosa por todo o Brasil e comemorado na Umbanda como o dia dos “pretos velhos” e “pretas velhas”. Uma vitória para a evolução da condição social e o reconhecimento legal de que uns não podem nem devem escravizar os outros e que busca a máxima de que somos todos iguais. O Brasil foi um dos últimos países a tomar esta atitude, durante muito tempo ainda houve escravidão ilegal, ainda hoje descobre-se em um ou outro local remoto pessoas vivendo em tal regime. Na história da humanidade muitos povos foram marcados pela condição de cativeiro, haja visto o que nos conta a tradição judaico cristã a cerca dos judeus que foram escravos dos Egípcios, mais tarde cativos de Babilônicos e por fim libertos pelos Persas. Em todos as culturas encontramos esta cicatriz da diferença, mas ainda hoje vivem sentimentos de diferença e discriminação com relação ao diferente. Não somos mais escravos de trabalho forçado em uma condição física, mas vivemos muitas outras condições de “escravidão” simbólica ou emocional. Muitos anos atrás ouvi um preto velho (Pai Joaquim) dizer que o dia da libertação foi quando o branco libertou a si mesmo do fardo e “karma” pesado em fazer de seu igual um escravo. Afinal branco hoje, negro ontem, amarelo ou vermelho amanhã, somos espíritos imortais e reencarnamos nas diversas raças e culturas. Estes dias ouvi Pai Benedito repetir estas palavras de que o branco libertou a si no momento em que libertava o outro, seu irmão, culturalmente tido como inferior. Durante muito tempo as ciências dos brancos, em suas faculdades e universidades, ensinou que o negro era inferior em todos os sentidos, tido como um “animal”, apenas, comprado e vendido. E não seria uma lei que mudaria os valores e paradigmas de uma sociedade espiritualmente atrasada. A própria Igreja Católica apoiou e patrocinou a escravidão de negros em detrimento de sua predileção por índios apesar de te-los matado aos milhões também. Purismo filosófico dos padres de então que criaram todo um discurso para libertar uns e prender outros. A alegação para fazer cativos os africanos era de que a África era o “Inferno” e que uma vez cativos nas mãos de “cristãos” os escravos seriam batizados e teriam finalmente sua alma livre apesar do corpo não gozar da mesma condição de suas almas. Ironia das inversões de valores, apesar da construção ideologia ser apologética ao crime de prender seu igual é certo que muitos que encarnaram no seio da Mãe África tinham a sina de ser escravizados (por questões de karma) o que não justifica o ato em si mas nos dá um sentido de ser no contexto. E outros tinham a missão de estar entre estes para lhes servir de guia e luz espiritual, muitos abnegados pediram para encarnar em meio a grande grupos de espíritos que iriam viver a experiência do cativeiro. Sabemos, hoje, que boa parte dos escravos eram “prisioneiros” de guerras e conflitos africanos, que se no principio eram condição natural de alguns povos, mais tarde foi patrocinada pelos interesseiros comerciantes de gente, fornecedores de armas e ideologias para abastecer o mercado “tumbeiro” entre dois continentes. A Lei maior a tudo assiste, ninguém nasce nesta ou naquela condição física e social á toa. Uns nascem com limitações motoras, de visão, de audição, de comunicação e até mental outros nascem com limitações sociais, seja por sua cultura ou classe social a que a maioria de nós está sujeito e que em alguns casos nos marca profundamente, nos fazendo sentir pertencentes a verdadeiras castas de acordo com nosso “poder” financeiro ou formação acadêmica, o que pode influenciar nossa saúde mental e distribuição do que poderíamos chamar de tempo livre. Muitos de nós se sente escravo do relógio, do trabalho, do patrão, de um emprego, das contas para pagar e compromissos assumidos. Somos escravos de nossos sentimentos de nossas paixões, somos escravos de nossos apegos, de nossos bens materiais e afetivos. Somos escravos do cigarro, da bebida, da comida, do sexo e de comportamentos que gostaríamos de mudar e não conseguimos. Somos escravos e vivemos esta escravidão como autômatos. Somos escravos voluntários até certo ponto pois há de se reunir muita energia para uma mudança de vida e hábitos, no entanto toda esta escravidão a quem nos sujeitamos mais cedo ou mais tarde nos trará complicações, de saúde, emocionais e sociais. Tudo funciona como uma máquina, criamos uma sociedade viciada e regulada por mecanismos que nos oprimem e classifica quem está por cima e quem está por baixo, na qual poucos conseguem sair de baixo para cima. Pior que estar em uma condição difícil é nos sentirmos inferiores ou inferiorizados e é ai neste ponto nevrálgico que entra nossos amados Pretos Velhos e Pretas Velhas, eles nos ensinam como viver além da condição de cativeiro a qual nos impomos.
Pois muito pior que o cativeiro físico é o cativeiro emocional, psicológico e cultural ao qual mais ou menos todos estamos sujeitos. Quem, hoje, pensar em viver sem uma televisão ou outros meios de comunicação está fadado a se tornar um alienado para este mundo globalizado, capitalista e consumista. Estes mesmos meios de comunicação nos dita regras desde muito cedo, desde a infância de como devemos falar, vestir, comportar e o que devemos considerar como bom ou belo, ruim ou feio... vamos crescendo condicionados à escravidão de valores e as grande máquinas de fazer lucro e manter a roda da sociedade girando...
É o preto velho quem nos ensina a se libertar do cativeiro... peço a eles que nos ajudem e auxiliem a vencer o que nos oprime, o que nos marcou, nossos traumas, medos, fobias... que nos ajudem a desamarrar o que nos prende e quebrar as correntes de velhos paradigmas que como grilhões não permitem vôos para além deste feudo cultural.
Que neste dia nosso amados pretos e pretas velhas nos ensinem a vencer o preconceito e a discriminação com valores espirituais, cultura e informação. Que sua mensagem que ecoa desde as senzalas nos lembre que todos nós somos muito mais que tudo isso, somos muito mais que nomes e títulos, sobre nomes e tradições, somos mais do que qualquer condição temporal, racial, cultural e social...
Somos espíritos imortais e nascemos para desenvolver a nossas liberdade, o que chamam livre arbítrio, que com tantas circunstancias limitantes nos dá muito poucas opções, em alguns casos, mas que ninguém se engane, a verdadeira liberdade só existe quando queremos nos libertar do que nos oprime e não há opressão maior que esta a qual nós mesmos exercemos sobre nós... libertar-se é se tornar livre no pensar e no agir... é ser e viver sua natureza superior é ser hoje melhor do que ontem e amanhã melhor do que hoje...
“Adorei As Almas”
Viva Yayá.. Viva Yoyô... Cativeiro Acabou...
13 de maio.
Do século XVI ao XIX, o negro viveu na condição de escravo no Brasil, foi um tempo de muita dor, de muito sofrimento, de muita mágoa e de muito clamor aos Orixás. Compadecido com tamanha lamúria, Oxalá manda Exu a terra levar uma mensagem de conforto para aquela gente tão sofrida. Na mensagem Oxalá dizia para o povo ter fé e esperança, que um dia enviaria uma princesa para libertar os africanos cativos no Brasil.
Nas senzalas, todos acreditavam nessa profecia de liberdade e pensavam, logicamente, que a princesa, a qual os libertaria do cativeiro, seria africana, considerando este pensamento, os pais das senzalas1 mantinham, em completo sigilo dos brancos, as suas falanges de guerreiros capoeiras, para quando a profecia se cumprisse, eles lutassem sob o comando da princesa para conquistarem a liberdade.
No dia 13 de maio de 1888, a profecia de Oxalá foi cumprida. Uma princesa veio em socorro ao povo da África cativo no Brasil, porém, ao contrário do que se acreditava nas senzalas, a princesa não era africana e sim brasileira, a Princesa Isabel Cristina do Império do Brasil, que não querendo ver o sangue de sua gente derramado, fez com que a pena preterisse a espada e assinou a lei Áurea. E assim, libertando os escravos.
Os negros livres saíram em festas das senzalas, cruzaram as porteiras das fazendas, empunhando a liberdade e rumaram em busca da cidadania. E por acreditarem na profecia de Oxalá, terem fé e resignação a tanta dor e sofrimento, essa gente foi evoluída espiritualmente, vindo a compor a falange de Pretos Velhos da linha das Almas.
Hoje, passado 223 anos da abolição da escravidão no Brasil, podemos constatar que ainda muitos dos descendentes desse povo não conseguiram encontrar a cidadania, estão perdidos, excluídos dos direitos universais do homem, como: educação, saúde, habitação...
O 13 de maio não deve ser apenas um dia de comemoração, mas também, um dia de reflexão. Pois, a liberdade nos foi generosamente concedida por compaixão de Oxalá pela Princesa Isabel, contudo, conquista da cidadania cabe a cada um de nós reivindicarmos e lutarmos juntos por ela.
Salve as Almas!
Edenir Santos
Autor do livro Ogum Marê
www.bibliteca24horas.com
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