'Abençoado é o homem que sofreu,
pois ele encontrou a Vida.'
Jesus disse:
'Olhe para o Eterno enquanto viver,
para que não morra; procure até encontrá-Lo,
pois será incapaz até ver.'
Eles viram um samaritano,
carregando uma ovelha, a caminho da Judéia.
Jesus perguntou a seus discípulos:
'Por que aquele homem leva consigo uma ovelha?'
Eles responderam:
'Para matá-la e depois comê-la.'
Jesus lhes disse:
'Enquanto a ovelha estiver viva,
ele não a comerá.
Apenas quando a matar
e ela tornar-se um cadáver
é que poderá comê-la.'
Os discípulos disseram:
'Do contrário, ele não será capaz de comê-la.'
Jesus lhes disse:
'Procurem em si mesmos um lugar de repouso,
a fim de que não se tornem cadáveres e sejam comidos.'
Jesus disse:
'Dois repousarão numa cama:
um morrerá
e o outro viverá.'
Desde os tempos mais remotos, o homem ter perguntado inúmeras vezes por que há sofrimento na vida. Se Deus é o Pai, por que há tanto sofrimento? Se Deus é amor e compaixão, por que a existência sofre?
Não há uma resposta satisfatória para isso. Mas se você entender Jesus, entenderá a resposta. O homem sofre porque não existe outra maneira de amadurecer, de crescer. O homem sofre porque apenas através do sofrimento consegue tornar-se mais consciente. A consciência é a chave.
Observe sua própria vida: sempre que está confortável, tranquilo, feliz, a consciência é perdida. Sua vida é uma espécie de sono, você vive como se estivesse hipnotizado, como se estivesse sonambulando; você se movimenta, faz coisas - mas como um sonâmbulo.
É por isso que quando não está sofrendo a religião desaparece da sua vida. Você não vai a templos, isso não faz sentido; você não reza a Deus, para quê? Parece não haver nenhum motivo.
Sempre que está sofrendo, você vai à igreja, seus olhos se movem em direção a Deus, seu coração se move para a oração. Existe alguma coisa oculta no sofrimento que o torna mais consciente de quem é, de por que existe, de para onde está indo. Sua consciência é intensa num momento de sofrimento.
Nada pode ser insignificante neste mundo. Ele é um cosmos, não um caos. É possível que você não o compreenda - isto é outra coisa - porque só conhece os fragmentos, não conhece o todo. Sua experiência de vida é como uma página solta de uma novela: você a lê, mas não faz sentido, porque é apenas um pequeno fragmento, você não conhece a estória toda. Se a conhecesse, essa página seria compreensível, coerente, significativa.
O que é significativo? É o conhecimento do fragmento em relação ao todo; é o relacionamento do fragmento com o todo. Um louco falando na rua não é significativo. Por quê? Porque é impossível relacionar o que ele fala com alguma outra coisa; sua fala é um fragmento apenas. Mas ele não está falando com ninguém, não tem necessidade, não há ninguém lá com quem falar. Sua fala é fragmentária, faz parte de um grande todo, e é por isso que é incoerente.
As mesmas palavras - exatamente as mesmas palavras - ao serem usadas por um outro homem, têm significado se ele estiver falando com alguém. Por quê? As palavras são as mesmas, as sentenças, os gestos são os mesmos e a um homem você chama de louco e ao outro não. Por quê? Porque há alguém para ouvir; o fragmento não é fragmentário, faz parte de um todo maior - é repleto de significado.
Corte um pedaço de uma tela de Picasso: ela não faz sentido; é só um fragmento e um fragmento é algo morto. Cole-o outra vez à tela e, de repente, o significado aparece. Torna-se coerente, porque agora faz parte de um todo, significa algo para você. Se o homem moderno se sente constantemente sem significado, isto acontece porque Deus tem sido negado - ou esquecido.
Sem Deus, o homem não pode ter significado, porque Deus quer dizer o Todo; o homem é apenas um fragmento. Você é apenas um verso da poesia - sozinho, é apenas um rabisco. No poema completo, seu significado aparece, porque está relacionado com o todo. Lembre-se sempre disso.
Lembro-me de um sonho de Bertrand Russell. Ele era ateu, nunca acreditou em Deus, nunca foi capaz de ver qualquer significado mais amplo que pudesse compreender o Todo. Ele contou o seguinte sonho: uma noite, durante o sono, ouviu alguém que batia à porta. Foi abri-la e viu o velho Deus ali parado.
Não pôde acreditar em seus olhos, porque nunca acreditara em Deus - até mesmo em sonhos, ele lembrava-se disto: "Não acredito em Deus." Mas o Velho parecia ter sido esquecido por todos, abandonado por todos; suas roupas estavam rasgadas, a sujeira havia se juntado em seu rosto e em seu corpo; Ele parecia tão fora de moda - quase como um desenho descolorido, no qual não se consegue ver claramente o que está acontecendo - Russell sentiu muita pena Dele. Então, só para animá-lo, disse: "Entre!" Bateu em suas costas como um amigo e disse: "Anime-se!" Neste momento, Russell acordou e o sonho desapareceu!
Esse é o estado do homem moderno, da mente moderna: Deus está fora de moda. Ou você está contra Ele ou, no máximo, está com pena Dele. Por sentir pena, tenta fazer com que Ele fique alegre, mas não porque Ele seja significativo para você - é apenas um quadro fora de moda, descolorido, inútil, um refugo do passado. Ou Ele está morto, ou mortalmente doente em Seu leito de morte.
Mas se o Todo está morto, como o fragmento pode ter significado? Se o Todo está fora de moda, como a parte pode ser nova, fresca e jovem? Se a árvore está morta, como a folha pode achar que está viva? Se ela pensar isso, será simplesmente estúpida. Poderá levar um pouco mais de tempo para a folha morrer, mas se a árvore estiver morta, a folha terá de morrer - já está morrendo.
Se Deus está morto, então o homem não pode viver. E o homem está mortalmente doente, porque sem o Todo o fragmento não tem nenhum significado.
Mas sempre que você está feliz - quando tem lampejos de felicidade e não a felicidade de fato - sempre que se sente confortável, à vontade, quando nada o perturba, você pensa que é o Todo.
Isso é uma ilusão.
Quando está sofrendo, de repente, percebe que não é o Todo. Quando está sofrendo, de repente, percebe que não é o que deveria ser, algo está errado, os sapatos apertam. Alguma coisa está errada e alguma transformação é necessária. Daí o valor do sofrimento.
O sofrimento lhe dá consciência, lhe dá o sentimento de que precisa mudar, de que tem de se renovar, renascer. Assim como você é, está sofrendo, por isso alguma coisa tem de ser feita.
pois ele encontrou a Vida.'
Jesus disse:
'Olhe para o Eterno enquanto viver,
para que não morra; procure até encontrá-Lo,
pois será incapaz até ver.'
Eles viram um samaritano,
carregando uma ovelha, a caminho da Judéia.
Jesus perguntou a seus discípulos:
'Por que aquele homem leva consigo uma ovelha?'
Eles responderam:
'Para matá-la e depois comê-la.'
Jesus lhes disse:
'Enquanto a ovelha estiver viva,
ele não a comerá.
Apenas quando a matar
e ela tornar-se um cadáver
é que poderá comê-la.'
Os discípulos disseram:
'Do contrário, ele não será capaz de comê-la.'
Jesus lhes disse:
'Procurem em si mesmos um lugar de repouso,
a fim de que não se tornem cadáveres e sejam comidos.'
Jesus disse:
'Dois repousarão numa cama:
um morrerá
e o outro viverá.'
Desde os tempos mais remotos, o homem ter perguntado inúmeras vezes por que há sofrimento na vida. Se Deus é o Pai, por que há tanto sofrimento? Se Deus é amor e compaixão, por que a existência sofre?
Não há uma resposta satisfatória para isso. Mas se você entender Jesus, entenderá a resposta. O homem sofre porque não existe outra maneira de amadurecer, de crescer. O homem sofre porque apenas através do sofrimento consegue tornar-se mais consciente. A consciência é a chave.
Observe sua própria vida: sempre que está confortável, tranquilo, feliz, a consciência é perdida. Sua vida é uma espécie de sono, você vive como se estivesse hipnotizado, como se estivesse sonambulando; você se movimenta, faz coisas - mas como um sonâmbulo.
É por isso que quando não está sofrendo a religião desaparece da sua vida. Você não vai a templos, isso não faz sentido; você não reza a Deus, para quê? Parece não haver nenhum motivo.
Sempre que está sofrendo, você vai à igreja, seus olhos se movem em direção a Deus, seu coração se move para a oração. Existe alguma coisa oculta no sofrimento que o torna mais consciente de quem é, de por que existe, de para onde está indo. Sua consciência é intensa num momento de sofrimento.
Nada pode ser insignificante neste mundo. Ele é um cosmos, não um caos. É possível que você não o compreenda - isto é outra coisa - porque só conhece os fragmentos, não conhece o todo. Sua experiência de vida é como uma página solta de uma novela: você a lê, mas não faz sentido, porque é apenas um pequeno fragmento, você não conhece a estória toda. Se a conhecesse, essa página seria compreensível, coerente, significativa.
O que é significativo? É o conhecimento do fragmento em relação ao todo; é o relacionamento do fragmento com o todo. Um louco falando na rua não é significativo. Por quê? Porque é impossível relacionar o que ele fala com alguma outra coisa; sua fala é um fragmento apenas. Mas ele não está falando com ninguém, não tem necessidade, não há ninguém lá com quem falar. Sua fala é fragmentária, faz parte de um grande todo, e é por isso que é incoerente.
As mesmas palavras - exatamente as mesmas palavras - ao serem usadas por um outro homem, têm significado se ele estiver falando com alguém. Por quê? As palavras são as mesmas, as sentenças, os gestos são os mesmos e a um homem você chama de louco e ao outro não. Por quê? Porque há alguém para ouvir; o fragmento não é fragmentário, faz parte de um todo maior - é repleto de significado.
Corte um pedaço de uma tela de Picasso: ela não faz sentido; é só um fragmento e um fragmento é algo morto. Cole-o outra vez à tela e, de repente, o significado aparece. Torna-se coerente, porque agora faz parte de um todo, significa algo para você. Se o homem moderno se sente constantemente sem significado, isto acontece porque Deus tem sido negado - ou esquecido.
Sem Deus, o homem não pode ter significado, porque Deus quer dizer o Todo; o homem é apenas um fragmento. Você é apenas um verso da poesia - sozinho, é apenas um rabisco. No poema completo, seu significado aparece, porque está relacionado com o todo. Lembre-se sempre disso.
Lembro-me de um sonho de Bertrand Russell. Ele era ateu, nunca acreditou em Deus, nunca foi capaz de ver qualquer significado mais amplo que pudesse compreender o Todo. Ele contou o seguinte sonho: uma noite, durante o sono, ouviu alguém que batia à porta. Foi abri-la e viu o velho Deus ali parado.
Não pôde acreditar em seus olhos, porque nunca acreditara em Deus - até mesmo em sonhos, ele lembrava-se disto: "Não acredito em Deus." Mas o Velho parecia ter sido esquecido por todos, abandonado por todos; suas roupas estavam rasgadas, a sujeira havia se juntado em seu rosto e em seu corpo; Ele parecia tão fora de moda - quase como um desenho descolorido, no qual não se consegue ver claramente o que está acontecendo - Russell sentiu muita pena Dele. Então, só para animá-lo, disse: "Entre!" Bateu em suas costas como um amigo e disse: "Anime-se!" Neste momento, Russell acordou e o sonho desapareceu!
Esse é o estado do homem moderno, da mente moderna: Deus está fora de moda. Ou você está contra Ele ou, no máximo, está com pena Dele. Por sentir pena, tenta fazer com que Ele fique alegre, mas não porque Ele seja significativo para você - é apenas um quadro fora de moda, descolorido, inútil, um refugo do passado. Ou Ele está morto, ou mortalmente doente em Seu leito de morte.
Mas se o Todo está morto, como o fragmento pode ter significado? Se o Todo está fora de moda, como a parte pode ser nova, fresca e jovem? Se a árvore está morta, como a folha pode achar que está viva? Se ela pensar isso, será simplesmente estúpida. Poderá levar um pouco mais de tempo para a folha morrer, mas se a árvore estiver morta, a folha terá de morrer - já está morrendo.
Se Deus está morto, então o homem não pode viver. E o homem está mortalmente doente, porque sem o Todo o fragmento não tem nenhum significado.
Mas sempre que você está feliz - quando tem lampejos de felicidade e não a felicidade de fato - sempre que se sente confortável, à vontade, quando nada o perturba, você pensa que é o Todo.
Isso é uma ilusão.
Quando está sofrendo, de repente, percebe que não é o Todo. Quando está sofrendo, de repente, percebe que não é o que deveria ser, algo está errado, os sapatos apertam. Alguma coisa está errada e alguma transformação é necessária. Daí o valor do sofrimento.
O sofrimento lhe dá consciência, lhe dá o sentimento de que precisa mudar, de que tem de se renovar, renascer. Assim como você é, está sofrendo, por isso alguma coisa tem de ser feita.
Osho, em "A Semente de Mostarda"
Imagem por Hjem
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