quarta-feira, 22 de setembro de 2010

AS SETE LINHAS DE UMBANDA




As Sete Linhas e os Sete dias da Semana - ou Pintando o Sete

A Umbanda não possui um livro sagrado ou qualquer tipo de normatização que padronize seus ritos ou dê uma base fixa acerca dos Orixás e de seus trabalhos. Isso pode ser muito positivo, pois permite o acesso direto e livre à energia sem nenhum tipo de tabulação como “ agora tenho que fazer isso, agir assim, me sentir de tal maneira ou falar essas palavras” mas também abre margem para enormes besteiras ditas e feitas por pessoas sem nenhum tipo de ancoramento, mas que juram de pé junto que foi o Grande Caboclo Não Sei Quem ou o Pai Zé de Não Sei Onde que mandou. Assim, a primeira lição que aprendemos é que a liberdade é extremamente positiva, mas demanda cuidado, atenção e uma firme conexão com o Divino, para que possamos agir corretamente.
 
Quando o assunto é As Sete Linhas, fica ainda mais difícil encontrar qualquer tipo de unanimidade, uma vez que cada escola entende de maneira distinta a distribuição e importância dos Orixás dentro dessas vibrações, portanto, o estudo que apresento diz respeito à minha experiência e estudo pessoal, e têm sido o guia para os ancoramentos dos CDs de estudo de cada linha, e não tem nenhum objetivo de estabelecer como verdade absoluta, já que na Umbanda o importante é sentir e aprender de maneira direta como cada linha trabalha e se apresenta para você.

Cada dia da semana é dedicado a uma linha trabalho e ao Orixá que a preside, o que não significa que a sua energia não esteja presente nos outros dias, somente que naquele dia ela é mais intensa. Dessa forma, recebemos suas irradiações de forma cíclica e contínua, o que possibilita, se estivermos abertos e conectados, um aprofundamento constante dentro de cada emanação.

No domingo, Sunday, o dia do Sol, a linha é de Erês, para que comecemos a semana da mesma maneira que começamos a vida – ou alguém aqui não nasceu bebê? Recebemos dos céus as bênçãos mais puras, o amor em sua forma mais cristalina e incondicional, o amor de pai para filho, que Olorun sente por cada um de nos e por todas as suas criaturas.
Em algum momento na caminhada espiritual, o viajante se depara com um jorro intenso de luz e amor e toma contato com toda a pureza divina e com uma incessante fonte de alegria. Esse momento é regido e abençoado pela linha das crianças, liderada pelos simpáticos irmãos gêmeos Cosme e Damião.

Tenho um amigo, um tanto sarcástico, que certa vez me disse que só recebemos quantidades grandes de luz para podermos enxergar e lidar com nossa sombra. Essa afirmação, apesar de parecer um tanto negativa, faz sentido, pois somente após entrarmos em contato com esse nosso lado renegado, poderemos aprofundar nossa viagem dentro de nos mesmos, nos reconhecendo, sem poréns, como luz e bem.

Assim, na Segunda-Feira, temos a regência de Exu e Pomba-Gira, Pretos-Velhos e as almas perdidas.
A linha de Exu simboliza nossos próprios demônios e entraves, que podem se apresentar na forma de entidades terríficas, vermelhas, chifrudas, fazendo caretas, tentando nos assustar, mas, no fundo, são Anjos de Deus nos ensinando uma importante lição: quanto mais difícil a situação, mais profundo o aprendizado, mais perene a transformação. E sabe qual é a principal arma de Exu? A sua gargalhada! Assim, rir mais de si mesmo e encarar os balanços da vida de forma mais leve, é uma maneira de encurtar os caminhos, minimizar a dor e absorver cada lição de forma mais suave e tranqüila.

As almas perdidas poderiam ser chamadas de almas esquecidas, pois são aqueles seres que, devido a pesados condicionamentos, se esqueceram de quem são, se perderam, e caíram em sofrimento. Também são, no mundo interno, nossos sentimentos corrompidos e adoecidos, que devemos encontrar, resgatar e curar. Esse trabalho de resgate é feito pelos Pretos-Velhos, queridos babas do amor, que nos ensinam que ainda que nossas batalhas internas estejam intensas, podemos auxiliar ao próximo, estender a mão amiga, praticar a caridade, sempre revestidos de humildade e com todo o cuidado e respeito pelo ser que está sendo resgatado.

O viajante aprende, então, a rir mais de si mesmo, e respeitar mais ao próximo, antes de dar o próximo passo de sua jornada.

Nessa viagem, entretanto, nunca se está sozinho. Quando, no nosso mundo interno ou no serviço ao próximo encontramos alguma barreira muito difícil, que não conseguimos transpor por conta própria, que nos valha o exército de Ogum, o invencível vencedor de demandas de Oxalá, regente da terça-feira. Ogum, sincretizado com São Jorge, vem vencer aquele enorme dragão da culpa, da repressão, do medo, do trauma. Vem trazer a coragem de enfiarmos a espada da verdade na garganta de todo condicionamento, cortando toda a má influência, quebrando o ciclo vicioso, trazendo a libertação. Essa força guerreira está presente a todo momento, nos protegendo e incentivando a romper de forma definitiva com tudo aquilo que nos é prejudicial, e é de extrema importância que cada um aprenda a se conectar com ela nos momentos difíceis, pois é de uma ajuda valiosíssima, essencial. Nenhuma batalha é vencida sozinha, toda vez que nos libertamos, muitos seres que estavam agregados àquela corrente negativa se libertam conosco, mas para isso é preciso romper nossas próprias barreiras e as barreiras de toda a corrente de pensamento que estávamos presos. Batalha difícil, penosa, mas seu fruto, a liberdade, vale cada gota de suor depositada nessa vitória.

Ao pensarmos em um campo de batalha, podemos dizer que o elemento transformação está muito presente, pois após um enfrentamento dessa monta, é impossível permanecer o mesmo. Por isso, dentro da Mitologia, Ogum é casado com Iansã, Orixá da transformação, sendo considerados, dentro de algumas linhas, pais de Cosme e Damião. Iansã também é esposa de Xangô, dividindo com ele a regência de quarta-feira, o quarto dia, o quarto passo, e o terceiro chakra: o fogo transmutador que habita nosso plexo solar. Após a enfrentar os condicionamentos e destruir seus conceitos, nosso querido viajante vai reconstruir seu mundo interno de forma mais íntegra, firme, baseado no que é justo e certo. O construtor de tudo isso, é Xangô, Orixá da Justiça.

Por vezes, nos deparamos com situações que não nos parecem justas ou certas, mas acima da dualidade entre o bem e o mal, representada por sua machada, está a coroa de Xangô, a soberana Justiça, que rege a complexa orquestra de encarnações, encontros, desencontros, reencontros, situações, etc. Baseados nessa lei, devemos nos permitir confiar incondicionalmente nos mestres, aceitar aquilo que nos é entregue e edificar nosso templo com firmeza e fé.

E, mais uma vez, não estamos sós nessa difícil tarefa de nos reconstruir: a Mãe Divina nos acompanha, com todo seu amor e bondade, na forma das três esposas de Xangô: Obá, a sabedoria adquirida pelo estudo e conhecimento positivo, Iansã, a transformação
necessária de nossos velhos conceitos e Oxum, a beleza e a riqueza, os frutos da dedicação a reforma interna.

E é nesse espírito de infinita beleza que adentramos a quinta-feira, linha da floresta, a magnífica natureza, sob regência de Oxossi a cor verde que predomina nas matas também é a cor associada ao chakra do coração, assim, essa linha de trabalho promove a cura interna, para que as emoções puras possam brotar e seguir livremente seu curso, se espalhando como bênçãos de cura para todos os seres e todo o planeta, como folhas ao vento, com a ajuda desses seres encantados que habitam as florestas. Além disso, o Rei Oxossi é chamado o caçador de almas, pois sai caçando aqueles que estão abertos e disponíveis para a cura e a elevação, e traz à esses a boa doutrina, os sagrados ensinamentos, os mistérios divinos, e coloca o viajante de volta na trilha que leva á morada de Oxalá.

E então, o caminhante pode finalmente entrar em contato com a palavra de Oxalá. E a primeira palavra que irá ouvir, sentir e dizer é PAZ. Estar em paz, não é estar em um intervalo entre guerras. Estamos falando em paz, não em trégua. Estamos falando em abandonar definitivamente todo conflito interno ou externo e se deixar dissolver na paz do divino criador de tudo o que há, houve ou haverá, o Orixá mais próximo de Olorun – sendo considerado, por muitos, o próprio Olorun. E é essa energia que nos recebe no dia de sexta-feira, que na Umbanda, sempre é dia de festa, alegria, dia de Oxalá, a suprema compreensão, a meta final, o cristo cósmico.
Oxalá é o fundador da Umbanda, ou seja, é o coordenador de todas as linhas de trabalho apresentadas. Ele se apresenta sob diversas formas, entre elas o velho Oxalufã e o jovem Oxaguiã, sendo o primeiro marido de Nanã e pai dos Orixás mais antigos e o segundo marido de Iemanjá e pai dos Orixás mais jovens, sendo então pai e criador de todos os Orixás, exceto Nanã, também representada como velha e sábia, que divide com ele a criação da linha de Umbanda. Assim, Oxalá se apresenta primeiramente como velho, simbolizando a sua experiência e sabedoria quando fundou a sua própria linha de trabalho, e depois como jovem, pois o criar da vida não para de fluir e de se renovar a todo instante.

Mas a alegria de sexta-feira não pára por aí. É nesse dia também que celebramos as almas santas, todos os trabalhadores da luz, que já trilharam o caminho do auto-conhecimento e agora fazem parte das falanges do astral que realizam todos esses trabalhos maravilhosos a favor da humanidade.

E para completar a festa, nas casas que abraçaram essa linha, na sexta-feira se reverenciam os mestres do Oriente, os convidados de Oxalá para trabalharem na Umbanda trazendo a cura, alegria e os ensinos das antigas civilizações, entre elas indianos, ciganos, egípcios, chineses, etc.

Em meio a toda essa alegria e pacificação, as emoções de nosso viajante irão brotas livremente, e as águas que escorrem dos seus olhos embasbacados são a porta de entrada para a linha das Águas, que abarca todos os Orixás femininos, ou Yabás, e rege o dia de sábado. Nossas águas são nossas emoções, e nossas emoções são o portal para alcançarmos a dissolução no infinito mar do amor
A maneira como nos sentimos é uma das principais chaves para tomarmos decisões corretas e afiarmos nosso discernimento.

A nossa faixa vibracional, ou seja, o tipo de vibração ao qual estamos alinhados e conectados, determina todo o tipo de acontecimento em nossas vidas, e o que nos mantém alinhados com determinada faixa, é a maneira como nos sentimos, pois existe um ciclo: pensamos sobre aquilo que sentimos, agimos e falamos sobre aquilo que pensamos, e aquilo que falamos e fazendo atraem para nos pessoas que pensam de forma semelhante e nos fazem sentir de determinada maneira. Essa faixa vibracional determina também o campo astral para o qual seremos direcionados em todo trabalho espiritual, e também após a morte.

Diversas virtudes, energias e cores habitam a linha das águas e o encontro tão esperado com a Mãe Divina, nos mostrando que a todo momento é possível elevarmos nossos pensamentos, sentimentos e vibrações, amarmos mais, aceitarmos mais, vivermos mais.

A divina energia criadora de todo o mundo Material, mãe, a divina essência que a tudo permeia, amor, essa é a linha das Yabás.
Entretanto, as águas não representam somente o campo emocional. Dentro da divisão dos elementos da natureza nos chakras, a água habita o chakra sexual, as gônadas, nossa pequena partícula capaz de gerar a vida. E é assim, no balanço das águas que toda a vida se inicia.

E o início da vida é regido pelos Erês, que agora representam o ser renascido, puro como criança, inocentemente confiante, deitado no colinho de Oxalá. Representam o viajante que percorreu todas as maravilhas e dificuldades do auto-conhecimento, se transmutou, se dissolveu, e agora pode novamente aprofundar sua experiência, auxiliar mais, enfrentar novos desafios, se reconstruir, se curar, se dissolver e renascer. 

Essa é a maneira como compreendo e vivencio as energias de Aum-bandha-hum, com seus belíssimos aprendizados, seus coloridos trabalhos, na festa de existir e se descobrir, sempre.

Que as bênçãos de Oxalá se multipliquem em suas vidas.
Que o amor de Iemanjá vos inunde a cada instante.
Que a paz entre todos os seres seja uma realidade agora.

Com muito amor e com muita alegria,

Sat Kakini.

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